Título: Ministro da Fazenda evita encontrar Dilma
Autor: Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Valor Econômico, 25/11/2005, Política, p. A7

Ainda não foi dessa vez que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva selou a paz entre os ministros Antonio Palocci, da Fazenda, e Dilma Rousseff, da Casa Civil. Ontem, Lula voltou a elogiar o ministro da Fazenda, sinalizando mais uma vez que garante a sua permanência no governo, mas ainda não realizou o gesto esperado por Palocci: o restabelecimento de sua autoridade como número 1 da economia. O presidente planejava reunir ontem Dilma e Palocci, para uma conversa, cujo principal objetivo seria pacificar a relação entre os dois e deixar claro, para a ministra, que é o titular da Fazenda quem manda na economia. O encontro acabou não acontecendo. Lula reuniu-se separadamente com Dilma e Palocci e com o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo. O ministro da Fazenda continua incomodado com as críticas que Dilma fez publicamente à política econômica. Tanto que, ontem, Palocci ordenou que o secretário executivo da Fazenda, Murilo Portugal, o representasse num encontro com a ministra da Casa Civil, para tratar da preparação da reunião da Junta Orçamentária, instância que delibera sobre a liberação de recursos. Foi mais um sinal de que Palocci só fará as pazes com Dilma quando Lula restabelecer sua autoridade. De manhã, ao dar entrevistas para rádios do Rio e São Paulo, Lula disse que "mexer no Palocci é como pedir ao Barcelona para tirar o Ronaldinho Gaúcho". O ministro, segundo seus amigos, ficou mais uma vez satisfeito com os afagos de Lula, embora ainda aguarde um gesto mais firme do presidente, restabelecendo sua autoridade dentro do governo. Uma forma de fazer isso é confirmar que o superávit primário das contas públicas será de 4,7% do PIB, superior, portanto, à meta oficial. Um interlocutor do presidente informou ao Valor que Lula não formalizará o aumento do superávit primário, mas não há mais tempo hábil para o superávit ficar aquém dos 4,6% do PIB. O presidente está preocupado com o desaquecimento da economia ocorrido no terceiro trimestre. Ontem, ele perguntou aos ministros da área econômica o que será feito para reacelerar o crescimento. Uma das medidas defendidas por Palocci é justamente a elevação do superávit agora, medida que facilitaria a redução das taxas de juros e, assim, propiciaria as condições para o PIB crescer mais rápido em 2006, ano eleitoral. Embora concorde com a execução de um superávit fiscal maior, Lula quer que, neste fim de ano, o orçamento programado seja realizado. Ontem, ele revisou os projetos de investimento. Segundo um assessor do Planalto, Paulo Bernardo sugeriu que a reunião da Junta Orçamentária ocorra no próximo dia 30, quando a área econômica terá dados precisos sobre a arrecadação e os gastos até novembro.