Título: Para Machado, uma hora e meia é "tempo razoável" de espera em fila
Autor: Arnaldo Galvão
Fonte: Valor Econômico, 25/11/2005, Política, p. A7

O ministro da Previdência, Nelson Machado, que causou constrangimento ao desmentir, ao vivo, uma promessa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de acabar com as filas do INSS, durante entrevista de Lula a emissoras de rádio, no Palácio do Planalto, explicou, mais tarde, que o que deve acabar é a "fila desumana", em abril ou maio. Na opinião do ministro, desumano é chegar de madrugada e ficar muitas horas sem atendimento. "Não houve saia justa com o presidente. Falei na fila em geral", disse Machado. Razoável, na opinião do ministro, é uma pessoa perder até uma hora e meia no atendimento. Machado afirmou que, atualmente, algumas agências não precisariam ter filas porque, às quatro da manhã, muita gente está esperando e, às nove horas, já não há mais ninguém. "É o medo de não ser atendido. É preciso mudar essa cultura. Vamos evoluir para o atendimento com hora marcada. Mas isso é uma meta", justificou. O governo inicia hoje o Programa de Gestão do Atendimento (PGA), que começou em 2004 e terá um custo de R$ 30 milhões neste e no próximo ano. O objetivo é melhorar o atendimento, reduzir filas e diminuir o estoque de processos. Aproximadamente 30% dos 3,6 milhões de pessoas que procuram o INSS todos os meses querem apenas orientação. Um exemplo do que o aperfeiçoamento da gestão pode beneficiar o usuário é a experiência-piloto na agência Centro, em São Paulo (SP). Antes das mudanças gerenciais, a espera na fila era de 90 minutos e os 59 funcionários atendiam a aproximadamente 12 mil pessoas por mês. Depois das mudanças, a espera caiu para 47 minutos e 50 funcionários passaram a atender a 17 mil pessoas por mês. Machado reconheceu que a estrutura de tecnologia da informação da Previdência é muito vulnerável, o que facilita as fraudes. Mas, por outro lado, informou que o governo já iniciou uma série de reformas que vão desde a compra de milhares de computadores e servidores novos até a migração da plataforma fechada da Unisys para um sistema aberto. Essa migração vai libertar o governo da dependência tecnológica da Unisys que custa aproximadamente R$ 40 milhões por ano e deve ter as primeiras ações em meados de 2006. A previsão de Machado é a de completar esse ciclo em cerca de três anos. O custo é de R$ 32 milhões. Toda a estrutura da Previdência, incluindo INSS e Dataprev, tem 41 mil funcionários. Neste ano, o governo pagará R$ 146 bilhões em benefícios e o Regime Geral da Previdência Social (RGPS) tem déficit estimado de R$ 39 bilhões para 2005.