Título: Disputa entre PT e PSDB gera impasse na CPI dos Correios
Autor: Thiago Vitale Jayme
Fonte: Valor Econômico, 25/11/2005, Política, p. A8

A disputa política entre PT e PSDB poderá inviabilizar a elaboração e votação de relatórios parciais da CPI dos Correios. Irritado com o embate partidário, o sub-relator de Finanças da comissão, deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR), anunciou ontem que não vai mais elaborar relatórios parciais. "Se continuarmos assim, será um processo auto-destrutivo. Essa disputa empobrece a CPI e só acirra o conflito entre PT e PSDB. Terminaremos como a CPI do Banestado", afirmou o tucano. O primeiro e único relatório parcial de Finanças teve a votação adiada ontem para quinta-feira. A razão do embate é a pressão do PT para que Fruet inclua no relatório os empréstimos concedidos pelo empresário Marcos Valério Fernandes de Souza ao PSDB de Minas Gerais, durante a campanha do senador Eduardo Azeredo. A solução encontrada por Fruet, após tensas discussões com petistas em reuniões fechadas, foi adicionar um novo capítulo ao relatório: "Investigações em curso". No entanto, além das ligações do "valerioduto" com os tucanos, Fruet abordará também neste capítulo todos os casos de caixa 2 que envolveram as agências de publicidade de Marcos Valério e de Duda Mendonça e o PT em campanhas no Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, São Paulo, Distrito Federal e Pará. Citará, por exemplo, o ex-presidente do PT José Genoino e o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP). Em todos esses casos, no entanto, Fruet não fará nenhuma sugestão de indiciamento ao Ministério Público. No caso de Mercadante, por exemplo, o próprio Fruet faz ressalvas. Pondera que o senador deu explicações à CPI e que o publicitário Duda Mendonça negou que na campanha do petista tenha havido caixa 2. Mercadante esclareceu que, além do gasto declarado de sua campanha, de R$ 750 mil, o PT fez uma conta coletiva para gastos de TV para as campanhas presidencial/estadual/Senado, no valor de R$ 3 milhões. As duas contas foram declaradas ao Tribunal Superior Eleitoral. "A ressalva feita pelo senador é justificável. Aliás, todos os casos podem ser", observou Fruet. O sub-relator afirma que todas essas denúncias de caixa 2 não podem ser misturadas com o esquema que está sendo apurado pela CPI dos Correios, que envolve superfaturamento de contratos de estatais, corrupção, crimes contra ordem tributária e o sistema financeiro e lavagem de dinheiro. O foco central do sub-relatório de Finanças são os seis empréstimos feitos por Marcos Valério ao PT, que caracterizaria, segundo Fruet, esse suposto esquema de corrupção. O PSDB insiste que é preciso distinguir isso de caixa 2. Para o PT, os tucanos estão aplicando dois pesos e duas medidas. "Nós vamos tentar construir um relatório de consenso. A parcialidade é muito clara. Se houve empréstimos com o Marcos Valério em 1998, se houve superfaturamento, falsificação de notas fiscais, tem que entrar tudo no relatório", argumentou a senadora Ideli Salvatti (PT-SC), a mais resistente e combativa aos tucanos. Mais moderado, o deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP), sub-relator de contratos da CPI, tenta costurar um acordo. "Podemos colocar todos os fatos e harmonizar a análise. O deputado Fruet é receptivo e a sugestão apontada por ele é boa", defendeu o petista. Cardozo discorda da tese de alguns petistas de que é preciso radicalizar e apresentar um voto em separado.