Título: Fracassa nova tentativa de mudar comando da Varig
Autor: Cláudia Schüffner
Fonte: Valor Econômico, 25/11/2005, Empresas &, p. B2

Aviação

A crise que se instalou na Varig há uma semana com a demissão da diretoria comandada por David Zylbersztajn se agravou nos últimos dois dias e a aérea parece uma empresa sem futuro. Além dos conhecidos problemas de caixa que estão levando a companhia à insolvência, ela agora está sem comando. Ontem, o advogado Sérgio Tostes, que representa a Fundação Aerus, fundo de pensão dos funcionários da Varig, que tem R$ 2,2 bilhões a receber, não aceitou a indicação de seu nome para a presidência do conselho da Varig, como queriam a Fundação Ruben Berta Participações (FRB-Par), sindicatos dos aeronautas e o grupo representado pela associação dos Trabalhadores do Grupo Varig (TGV). "Houve um consenso na indicação do meu nome por parte de alguns credores mas eu só aceitaria se houvesse unanimidade. Com a abstenção da Infraero, o Aerus decidiu recusar", explicou Sérgio Tostes ao Valor. A FRB chegou a informar sua nomeação em nota para a imprensa no meio da tarde, em substituição ao presidente do conselho, Humberto Rodrigues Filho. Mas no início da noite a Varig continuava tendo Marcelo Bottini na presidência e Rodrigues Filho no conselho. Com toda a movimentação dos últimos dois dias, entretanto, os dois ficarão ainda mais enfraquecidos. Na quinta-feira, já havia fracassado uma tentativa do Judiciário de reconduzir Zylbersztajn ao comando da Varig. Com isso, as únicas certezas com relação à Varig atualmente são que seus administradores não têm apoio dos credores e que a TAP reavalia o empréstimo de US$ 40 milhões a título de antecipação de recebíveis de cartões de crédito que precisam ser depositados até quarta-feira, dia 30. A empresa caminha sem rumo para a assembléia marcada para 13 de dezembro, quando deve ser aprovado, modificado ou rejeitado o plano de recuperação. Por ironia, trata-se do plano concebido pelos administradores demitidos na sexta-feira passada. A confusão instalada no comando da Varig teve início com a insatisfação principalmente do Aerus com a condução da negociação que culminou com a venda da VarigLog e da VEM para a TAP por US$ 62 milhões. Tostes reclamou, em entrevista ao Valor, que esse valor era o "mínimo" estabelecido para venda das duas empresas e criticou o fato do montante ter sido fixado como referência no contrato assinado com a TAP, que obteve empréstimo do BNDES. Ao que parece, a insatisfação do Aerus com os antigos administradores apressou a queda de Zylbersztajn, Omar Carneiro da Cunha, Eleazar de Carvalho e Marcos Azambuja. A Aerus parece ter liderado uma tomada de controle com o objetivo de colocar o centro das decisões nas mãos dos credores, mas o tiro saiu pela culatra e quem acabou retomando o controle foi a FRB-Par, que controla a Varig. A fundação nomeou na segunda-feira novos administradores, indicando Marcelo Bottini para a presidência e Humberto Rodrigues Filho, para o conselho de administração. Mas, diante das preocupações manifestadas por credores, os juízes da 8ª Vara Empresarial do Rio, que coordena o processo de recuperação da empresa, tentaram reverter as demissões de sexta passada, se dispondo a reconduzir Zylbersztajn e seu grupo. Eles assumiriam o cargo de gestores da Varig, uma figura prevista na nova Lei de Falências. "Chegaram a nós informações de que haveria certa preocupação entre os credores com a indicação desse novo grupo e a impressão de que tinha sido temerário mudar o comando agora, devido à proximidade da assembléia onde será votado o plano de recuperação", explicou o juiz Paulo Roberto Fragoso, da 8ª Vara Empresarial. Os juízes chegaram a convidar o grupo de Zylbersztajn para retornar à Varig. Mas os executivos demitidos pediram que houvesse um consenso entre os credores em torno de seus nomes, para minimizar o risco de manobras futuras para retirá-los. Mas não se chegou a um acordo. "A possibilidade de reverter as demissões de sexta foi aventada, mas os credores não manifestaram boa vontade", disse Fragoso.