Título: Renda em 2006 é revisada para baixo
Autor: Mauro Zanatta
Fonte: Valor Econômico, 25/11/2005, Agronegócios, p. B12

A conjuntura ainda adversa para os grãos levou o Ministério da Agricultura a reduzir sua estimativa para a renda agrícola ("da porteira para dentro") das 20 principais lavouras do país em 2006. Segundo levantamento divulgado ontem (dia 24) por José Garcia Gasques, coordenador de planejamento estratégico do ministério, a receita conjunta somará R$ 99,73 bilhões, ante os R$ 97,184 previstos para 2005 e os R$ 109,151 bilhões de 2004. A primeira projeção de Gasques para o ano que vem, publicada pelo Valor em outubro, apontava R$ 102,884 bilhões. Para a soja, carro-chefe do campo brasileiro, a previsão de renda em 2006 caiu de R$ 29,036 bilhões para R$ 28,310 bilhões. Para este exercício, o ministério projeta R$ 25,532 bilhões, 22,6% menos que no ano passado (R$ 32,995 bilhões). Em relação ao relatório de outubro, também houve revisões para baixo das estimativas para a receita de algodão, arroz, batata, cacau, café, cana, cebola, fumo, laranja, mamona, mandioca, pimenta-do-reino, tomate, trigo e uva. Em evento no Rio, o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, disse ontem (dia 24) que, em 2005, o PIB agrícola terá perda de quase R$ 17 bilhões em relação a 2004. "É a maior perda nos últimos 40 anos", comparou. Segundo estudo da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e do Cepea/USP, o PIB da agricultura deverá somar R$ 79,34 bilhões, ante os R$ 95,43 bilhões do ano passado. Rodrigues lembrou que um fator determinante para a queda foi a redução da safra de grãos em virtude da seca no Sul no início do ano. Ele lembrou que a previsão inicial sinalizava uma colheita de 132 milhões de toneladas em 2004/05, volume que ficou em 112 milhões. O ministro acrescentou que os custos de produção desta safra foram muitos altos em relação ao comportamento dos preços agrícolas. Segundo Rodrigues, os custos foram influenciados pela alta do petróleo e do aço e pelo câmbio. "Os insumos foram comprados quando a cotação estava em cerca de R$ 3 por dólar, em setembro do ano passado, e a safra foi vendida com a cotação a R$ 2,3 ou R$ 2,4 por dólar", disse. Ele citou ainda o efeito, por conta da seca, da prorrogação dos vencimentos de créditos de custeio e investimento dos produtores com taxas de juros equalizadas. Por conseqüência, observou, caiu o volume de recursos para o custeio da safra. Rodrigues reconheceu que o cenário complica a safra que está sendo plantada agora. Ele reiterou que a área plantada deve cair cerca de 5% e que haverá queda no padrão tecnológico das lavouras. A produção estimada para a safra 2005/06 é de cerca de 120 milhões de toneladas, a menor safra desde 2003 em condições normais de clima. "Deste modo a renda da agricultura em 2006 dependerá da questão cambial. Mas os R$ 2 bilhões a mais alocados agora para o custeio a juros equalizados vão mudar o mix do crédito rural", apontou Rodrigues. Ele disse que o ministério trabalha junto ao Tesouro para fazer uma reavaliação dos ativos oferecidos como garantia pelos produtores para flexibilizar o limite de crédito dos agricultores e permitir que eles possam tomar mais recursos. Rodrigues avaliou, porém, que a boa situação vivida por alguns setores, como café, açúcar e etanol (no Centro-Sul e Centro-Oeste) pode compensar neste e no próximo ano parte das perdas com os grãos. (Colaborou Fernando Lopes, de São Paulo)