Título: Setor privado acelera captações
Autor: Alex Ribeiro
Fonte: Valor Econômico, 25/11/2005, Finanças, p. C2
As captações de médio e longo prazos do setor privado voltaram a ganhar força em novembro. Até o dia 22, somam US$ 1,1 bilhão, o maior valor registrado desde junho passado, quando ficaram em US$ 1,896 bilhão. Entre as fontes que irrigam o mercado de câmbio, superam os investimentos diretos, mas ficam bem atrás das exportações. Desde o início da flutuação do câmbio, em 1999, as captações têm mantido uma tendência de queda. Os novos empréstimos diretos e lançamentos de papéis mal cobrem os vencimentos. De janeiro a outubro deste ano, por exemplo, foram rolados o equivalente a apenas 68% dos compromissos vencidos; para 2006, projeta-se 70%. Baixas taxas de rolagem levam à redução do endividamento externo. Em novembro, registra-se uma exceção: a taxa de rolagem chega a 106%. O significado desses percentuais é que, se em meses anteriores parte dos vencimentos da dívida privada era bancada com recursos de exportações e investimentos, em novembro as captações são suficientes para cobrir as amortizações, com pequena folga. Essa retomada das captações - que tende a ser temporária - tem contribuído para que sobrem mais dólares no mercado em novembro, reforçando a apreciação do real. Segundo dados divulgados ontem pelo Banco Central, o movimento de câmbio contratado está sendo superavitário em US$ 2,408 bilhões em novembro, apenas até o dia 22. A maior fonte de dólares é, de longe, as exportações (US$ 6,871 bilhões), que cobrem as importações (US$ 4,216 bilhões) e ainda produzem uma sobra de US$ 2,655 bilhões. As captações privadas surgem como a segunda fonte mais importante de dólares no período, com US$ 1,1 bilhão (câmbio liquidado até o dia 24), pelo menos entre os dados abertos ontem pelo BC. Os investimentos diretos vêm um pouco atrás, com US$ 850 milhões, até o dia 24. O BC absorveu, por meio de seus leilões de compra de moeda estrangeira, todo o superávit no mercado primário de câmbio, de US$ 2,408 bilhões. Ainda comprou US$ 809 milhões dos bancos, que ampliaram a sua posição vendida em câmbio de US$ 1,725 bilhão para US$ 2,534 bilhões, entre o último dia de outubro e 22 de novembro passado. Instituições financeiras estão vendendo dólares e comprando reais porque, de um lado, apostam na tendência de apreciação do câmbio e, de outro, querem lucrar com as altas taxas de juros vigentes dentro do país. No total, portanto, a autoridade monetária comprou US$ 3,217 bilhões em novembro, até o dia 22. Essas pesadas intervenções, junto com a captação de US$ 500 milhões na reabertura do bônus Global 15, levaram as reservas internacionais líquidas (excluem empréstimos do FMI) a US$ 50,113 bilhões na última terça, segundo dados do BC. É o volume de reservas líquidas mais elevado desde de 1998, quando o Brasil voltou a tomar empréstimos do FMI. As reservas brutas somam US$ 63,564 bilhões. Entre os caminhos de saída dos dólares, estão as amortizações de dívida privada (US$ 1,040 bilhão, até o dia 24), os pagamentos de juros (US$ 925 milhões, sempre até o dia 24), as remessas de lucros e dividendos (US$ 555 milhões) e serviços como aluguel de equipamentos (US$ 260 milhões), royalties e licenças (US$ 166 milhões) e turismo (US$ 75 milhões). (AR)