Título: Igreja ataca pedofilia, mas socializa a culpa
Autor: Couto, Rodrigo
Fonte: Correio Braziliense, 05/05/2010, Brasil, p. 7

Assembleia geral da CNBB toma decisão histórica e decide criar uma comissão para discutir o assunto. Arcebispo de Porto Alegre, porém, defende a instituição e diz que o crime é ¿uma anomalia da sociedade humana¿

Pressionada pelo aumento das denúncias de pedofilia praticadas por integrantes da Igreja Católica no Brasil e no exterior, a 48ª Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) aprovou, pela primeira vez em sua história, a criação de uma comissão de estudo para debater o assunto. Formado por até seis integrantes, com apoio de quatro auxiliares, o grupo pode sugerir, até o fim do encontro, na quinta-feira da semana que vem, novas instruções aos religiosos que comprovadamente têm ou tiveram relações sexuais com meninos e meninas. A oficialização de uma discussão inédita para a Igreja Católica levou a reações inesperadas. Citando dados de um artigo publicado nos Estados Unidos, o arcebispo de Porto Alegre, Dadeus Grings, que é coordenador do tema central da assembleia da CNBB, mais importante reunião dos representantes católicos do Brasil, disse que apenas 0,2% dos casos de pedofilia na Alemanha, por exemplo, estão na Igreja. ¿É uma anomalia da sociedade humana e que deve ser corrigida. Somos os únicos que atacamos a pedofilia e, por isso, somos mais visados¿, argumentou. ¿Essa questão deve ser discutida em um âmbito maior que o da Igreja.¿

Homossexualidade

Polêmico, o bispo admitiu que a Santa Sé tem dificuldade em cortar na própria carne e que o papel de prender e punir cabe à Justiça. ¿É muito raro um pai levar um filho à polícia. Então, primeiro investigamos para depois tomar algum tipo de medida. Mas é claro que a Igreja tem problemas para punir seus filhos¿, admitiu. ¿Não escondemos nada de ninguém. Todos os casos são devidamente investigados.¿ Para o arcebispo, a pedofilia é resultado da liberalização sexual. ¿Quando há essa liberação, pode ocorrer desvios sexuais¿, destacou, ao classificar a homossexualidade como ¿um desvio (1)relacionado à educação dos jovens. ¿O adolescente espontaneamente é homossexual. Menina brinca com menina e menino brinca com menino. Se não houver uma boa orientação, isso se fixa.¿

Erros

O clima em torno do assunto levou algumas das lideranças religiosas para a defensiva. Bispo de Araçuaí (MG), dom Severino Clasen pediu que a imprensa fizesse um levantamento sobre os índices de pedofilia entre toda a sociedade. ¿Isso não acontece só na Igreja, por isso queremos saber onde esse crime acontece para podermos cuidar de nossas crianças¿, destacou o religioso que, em seguida, adotou um tom mais ameno: ¿Os erros de hoje nos encorajam a ter esperança nos novos tempos.¿ Embora nitidamente dominante, a pedofilia não será o único assunto a ser discutido pelos cerca de 300 bispos que estão em Brasília para a assembleia na anual da CNBB. Reforma agrária, meio ambiente, crise política e aborto devem ser debatidos durante o encontro. No total, o Brasil tem 445 bispos, sendo 296 atuantes e outros 149 eméritos (aposentados).