Título: Ações criativas para combater o sedentarismo
Autor: Marta Barcellos
Fonte: Valor Econômico, 25/11/2005, Valor Especial / EMPRESA & COMUNIDADE, p. F2

Quem entra na sede da Lafarge, no centro do Rio, sente a diferença no ar. Depois que o programa Mais Saúde foi implantado, em maio do ano passado, funcionários ficaram mais esbeltos, despertadores tocam nos computadores para lembrar os mais distraídos da importância de beber água e a fumaça de cigarro foi definitivamente banida do ambiente de trabalho. Não é fácil conseguir uma adesão tão grande a um programa de saúde corporativo. Para obter uma participação efetiva dos funcionários, que se traduzisse em mudança de atitudes e hábitos, Alessandra Cavalcanti, consultora de recursos humanos, e Cláudia Bomtempo, gerente de carreiras e desenvolvimento, sabiam que precisavam criar uma forte identificação dos trabalhadores com o projeto. "Conhecíamos iniciativas de outras empresas, mas não adiantava copiar esses exemplos", diz Alessandra. "Precisávamos conhecer mais a fundo o nosso funcionário." As duas líderes do projeto atribuem o seu sucesso principalmente à forma como ele foi gestado, em 2003. Em parceria com a Amil, foi realizado um minucioso mapeamento das condições de saúde dos trabalhadores, que apontou afinal quais eram os principais problemas do grupo e que medidas preventivas poderiam ser tomadas para torná-los mais saudáveis e dispostos. Apesar de a idade média ser de apenas 33 anos, o levantamento mostrou indicadores preocupantes, como o índice de funcionários com colesterol elevado (15%), obesos (8%), hipertensos (8%) e fumantes (15%). O nível de sedentarismo foi um dos que mais impressionaram: 67%. Com o mapeamento na mão, Alessandra e Cláudia optaram por um projeto que mesclasse informação com atividades de interesse dos empregados, em torno de um mesmo tema mensal. Dessa forma, o mês de informações sobre estresse, por exemplo, foi acompanhado por disputadíssimas sessões de shiatsu. A palestra sobre coração foi "regada" a suco de uva (rico em flavonóides) e o mês da reeducação alimentar contou com consultas de uma nutricionista e sorteio de refeições em um restaurante natural. A empresa preocupou-se em chamar especialistas e profissionais renomados para discorrer sobre cada tema, utilizando para isso parte da verba anual de R$ 100 mil destinada ao programa. Cláudia reconhece que, no início, sorteios e brindes foram um artifício para vencer a resistência de alguns em participar das atividades. Agora, a participação já é tão espontânea que uma palestra sobre câncer de próstata no mês passado teve a surpreendente participação de homens e mulheres. O próximo passo é incluir questões familiares nos temas abordados. As palestras acontecem durante o horário de trabalho, mas ninguém é obrigado a participar. O principal canal de informação é o boletim "RH Informa", enviado por e-mail. Em algumas ocasiões, as atividades "invadem" os escritórios, como no dia em que palhaços mostraram na prática os efeitos benéficos do bom humor ou quando aulas de ginástica laboral foram praticadas no meio dos computadores. Depois da adesão maciça na sede, onde trabalham 200 pessoas, o Mais Saúde foi levado ao escritório de Belo Horizonte e agora está sendo promovido pelos departamentos de Recursos Humanos das fábricas - o que significa que 1,4 mil funcionários passaram a se beneficiar com o programa. Com a aposta na prevenção, a empresa acredita que os custos com assistência médica cairão e os funcionários vão trabalhar mais satisfeitos. Nos primeiros meses, porém, houve até um aumento na procura por exames médicos. "Era algo esperado, porque despertamos as pessoas para a sua saúde", ressalta Cláudia. "Mas sabemos que esse aumento de custos tende a se reverter."