Título: IPCA sobe 0,44%, pressionado por combustíveis e industrializados
Autor: Sergio Lamucci
Fonte: Valor Econômico, 12/11/2004, Brasil, p. A2

A inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) teve aceleração em outubro, fechando com alta de 0,44%, acima do 0,33% de setembro. As principais fontes de pressão foram os aumentos dos combustíveis e de alguns produtos industrializados. Referência para o regime de metas, o IPCA passou a acumular alta de 5,95% no ano e de 6,86% em 12 meses.

O IPCA em outubro ficou próximo ao projetado pelos analistas, que apostavam em variação de 0,45%. A má notícia foi a alta dos núcleos: o calculado pela exclusão de preços administrados e alimentos, por exemplo, ficou em 0,55%, bem acima do 0,41% de setembro. Os combustíveis foram o principal responsável pela alta do IPCA. Os preços da gasolina subiram 1,45% em outubro, refletindo o reajuste ocorrido na refinaria, enquanto as cotações do álcool avançaram 5,31%. Juntos, responderam por um quarto da variação do IPCA em outubro -o impacto da gasolina foi de 0,06 ponto percentual e o do álcool, de 0,05 ponto. Outras altas fortes foram de tarifas aéreas (5,03%) e vestuário (1,12%). Se esses itens pressionaram o IPCA para cima, os alimentos foram na direção contrária. Pelo segundo mês seguido, registraram deflação, recuando 0,23% em outubro. O economista Ricardo Denadai, da LCA Consultores, ressalta que diversos produtos industrializados tiveram aumentos significativos. É o caso dos automóveis novos, com alta de 1,29%, e aparelhos eletroeletrônicos, que subiram 0,99%. Para ele, esses reajustes mostram o repasse "de pressões de custos do atacado para o varejo". A alta dos industrializados explica a maior pressão sobre o núcleo calculado pela exclusão de preços administrados e alimentos. O IPCA divulgado ontem pelo IBGE mostrou ainda uma proporção maior de itens com elevação de preços, como notam os analistas do Bradesco. Em setembro, 60,4% dos itens do IPCA haviam subido; em outubro, esse número ficou em 66,4%. Se excluídos os alimentos, que tiveram deflação, esse percentual seria ainda maior, de 76,4%. Denadai não mostra preocupação com o comportamento dos preços. Para ele, o resultado do IPCA revela que a inflação não fugiu do controle. A questão é que ela está se estabilizando num nível que não parece compatível com as rigorosas metas inflacionárias. Outra medida de núcleo que o Banco Central (BC) acompanha com atenção é aquela em que se excluem as maiores e as menores variações de preços e se diluem os reajustes de preços administrados em 12 meses. Esse indicador subiu de 0,56% em setembro para 0,6% em outubro, o equivalente a uma taxa anualizada de 7,44%. A meta que o BC passou a perseguir para 2005 é de 5,1%. Por isso, a expectativa de mais elevação de juros. O economista-chefe do ABN AMRO, Mário Mesquita, diz que o resultado do IPCA mostrou que o índice cheio e os núcleos estão convergindo, "mas na direção errada." Para novembro, os analistas projetam um IPCA na casa de 0,65%. Aumentos de combustíveis, cigarros e o segundo reajuste extraordinário de telefonia devem pressionar o indicador. A expectativa é de que o índice feche na casa de 7,5% em 2004, acima do centro da meta deste ano, de 5,5% - já superado no acumulado até outubro - mas abaixo do teto de 8%.