Título: Intransigências dificultam negociação
Autor: Sergio Leo
Fonte: Valor Econômico, 12/11/2004, Brasil, p. A4

Quando o presidente da China, Hu Jintao, desembarcou em Brasília no final da tarde de ontem para uma visita oficial de seis dias ao Brasil, ministros dos dois países ainda não tinham conseguido concluir os termos dos acordos de abertura comercial que há meses vêm sendo negociados por técnicos e diplomatas. Intransigências de ambos os lados e recuos sobre pontos que pareciam acertados impediram a formalização dos acordos. "Se houver boa vontade e flexibilidade, é possível ter os protocolos prontos até amanhã (hoje)", disse o ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, depois de se reunir, no gabinete do ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, com o ministro da Administração Geral da Supervisão da Qualidade, Inspeção e Quarentena da China, Li Chiangjiang, e com a vice-ministra de Comércio, Ma Xiuhong. A China não desistiu de ser reconhecida pelo governo brasileiro como economia de mercado e essa exigência está atrasando as negociações. Na reunião de ontem, a insistência da ministra Ma Xiuhong nesse tema quase tirou Furlan do sério. "Ela é uma mulher muito, digamos, voluntariosa. Eu disse para ela que ela falou sobre isso, entre ontem e hoje, vinte e oito vezes e que eu já tinha entendido". Ele explicou aos chineses que há "vontade política" do governo brasileiro de reconhecer a China como economia de mercado, mas que "tecnicamente não dá", por causa da forte presença do Estado comunista na economia. Isso não significa que o assunto não possa ser objeto de negociação, desde que esse reconhecimento se reverta em vantagens para o Brasil. "Nós não vamos fazer concessões unilaterais. Se forem feitas concessões nesta área, estarão condicionadas a regras e contrapartidas", afirmou Furlan, que acredita ser possível salvar boa parte dos acordos que estão na mesa. A abertura do gigantesco mercado chinês à carne bovina, que até quarta-feira parecia estar bem encaminhada, travou na reunião de ontem porque os representantes chineses não querem reconhecer as normas sanitárias brasileiras. Fontes privadas davam o acordo como certo e estimavam capturar 20% do mercado de 200 mil toneladas de carne de frango da China no primeiro ano