Título: Mercado de trabalho cresce e mulher ganha espaço, aponta IBGE
Autor: Chico Santos e Vera Saavedra Durão
Fonte: Valor Econômico, 28/11/2005, Brasil, p. A3

Os números da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio de 2004, divulgados pelo IBGE, mostram que a recuperação de 3,3% no mercado de trabalho em relação a 2003 não foi suficiente para fazer com que o nível de ocupação da população economicamente ativa (pessoas com dez anos ou mais) alcançasse o de 1992, quando era de 57,5%. Em 2004, o nível de ocupação era de 56,3, ante 55,4% em 2003, e 55,7% em 2002. A redução proporcional, em 12 anos, do pessoal ocupado deve-se, exclusivamente, à redução do trabalho masculino. Em 1992, tinham emprego 72,4% dos homens com idade para trabalhar. Em 2004, essa presença no mercado caiu para 67,9%, igual ao percentual de 1999. Já entre as mulheres, o nível de ocupação passou de 43,5%, em 1992, para 45,5%, em 2004, mostrando a crescente participação da mulher no mercado de trabalho. Para o economista Marcelo Néri, chefe do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas, embora o mercado de trabalho continue menor do que no começo dos anos 90, isso não pode esconder a forte recuperação do emprego no segundo ano de governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com a abertura de 2,7 milhões de postos, dos quais 1,6 milhão de empregos formais e 1,1 milhão informais. Se a média fosse mantida, o governo realizaria com folga a promessa de campanha de Lula de criar 10 milhões de empregos em quatro anos. Acontece que, em 2003, a PNAD havia captado a criação de apenas 1,2 milhão de postos de trabalho, com crescimento de 1,5% na ocupação. Em 2002, último ano do governo Fernando Henrique Cardoso, o aumento da ocupação foi de 3,8%. Neri destacou também como dado relevante nos números da PNAD 2004 o fato de o Índice de Gini, que mede a desigualdade (o índice vai de zero a um, quanto mais perto de um, mais desigual), ter registrado no ano passado o melhor resultado da série do IBGE desde 1981, no que se refere ao rendimento médio do trabalho por pessoa ocupada. O indicador caiu para 0,547 (o mesmo de 1981), ante um pico de 0,600 em 1993. Desde 1995 a trajetória do Índice de Gini do rendimento do trabalho por pessoa não sofre elevação. Em 1992, o indicador era de 0,571. Também em relação ao rendimento domiciliar, a desigualdade é declinante, embora há menos tempo. O Índice de Gini da renda domiciliar ficou em 0,535 em 2004, ante 0,545 em 2003. A trajetória de queda começou em 1998 (0,567), após ter atingido pico de 0,570 em 1997. Em 1992 era de 0,549, resultado só superado em 2003. Neri destacou que a redução do Índice de Gini domiciliar representou queda de 1,83% na desigualdade de 2003 para 2004. "Acho que é um efeito bem razoável", disse. O economista atribuiu a queda da desigualdade no governo Lula ao início do Bolsa Família, que, segundo ele, é um programa importante de distribuição de renda. Neri projeta mais queda da desigualdade para 2005. "A desigualdade desencalhou", disse. Apesar da melhora por pessoa e por domicílio, a desigualdade ainda é muito alta. Segundo os dados do IBGE, os 10% ocupados com maior rendimento ficavam com 44,6% da renda em 2004 (eram 49% em 1993). Já os 10% com menores rendimentos ficavam com apenas 1% da remuneração, mesmo assim, melhor do que o 0,7% de 1993. Os indicadores de conforto domiciliar continuaram crescentes em 2004, com destaque para o crescimento de 9,2% da disponibilidade de telefone em apenas um ano. Esse crescimento se concentrou nos telefones celulares. Em 2004, pela primeira vez na história a coleta de dados da PNAD cobriu todo o território brasileiro, incorporando a área rural dos Estados da região Norte, uma população equivalente a 1,9% (3,46 milhões de pessoas) da população total do país, que era de 182,6 milhões de habitantes. Para evitar distorções, o IBGE manteve apenas os dados urbanos da Região Norte quando fez comparações temporais.