Título: Dia de pânico nos mercados
Autor: Verdini, Liana
Fonte: Correio Braziliense, 05/05/2010, Economia, p. 9

Rumores de que a Espanha teria pedido socorro ao FMI, como fez a Grécia, causam temor generalizado de calote. As bolsas despencam, o euro chega a ser negociado no menor patamar desde abril de 2009 e o dólar sobe

O pacote de socorro à Grécia, no valor de 110 bilhões de euros (US$ 145 bilhões), não foi suficiente para acalmar os investidores, que continuam desconfiados da possibilidade de um calote em cascata na Europa. Resultado: uma onda de pânico tomou conta do mundo. Ontem, rumores de que a Espanha estaria negociando uma ajuda com o Fundo Monetário Internacional (FMI(1)), a exemplo do que fez o governo grego, arrastou para baixo as bolsas de todo o planeta (ver quadro), fez o dólar se valorizar e o euro cair para o menor nível em um ano. Não foi diferente no Brasil, onde a bolsa despencou e fechou no menor nível desde o início de fevereiro. A pressão foi tão intensa que o FMI se viu obrigado, em comunicado oficial, a negar que a Espanha estivesse pedindo um empréstimo à instituição. ¿Não há verdade nesses rumores¿, disse o texto. Mais cedo, o primeiro-ministro da Espanha, José Luis Rodríguez Zapatero, preocupado com o clima tenso dos mercados, afirmou que o país tem capacidade de pagar sua dívida e que não precisa de ajuda da Europa. Zapatero acrescentou que qualquer especulação sobre a debilidade financeira na Zona do Euro, além da Grécia, é infundada. Na verdade, o dia já começou ruim na Ásia, onde as bolsas fecharam em queda, pressionadas por preocupações sobre o plano de ajuda à Grécia e o aperto da política monetária da China. O governo do país asiático anunciou um aumento dos depósitos compulsórios dos bancos para reduzir o volume de recursos disponível para empréstimos e conter a inflação.

Contágio

Na Europa, o temor de calote fez com que as principais bolsas tivessem um dia de profundas quedas. ¿O acordo com a Grécia é bom em princípio, mas vai impor uma grande quantidade de restrições e não está claro se conseguirá de fato conter o contágio que tem se espalhado como resultado¿, disse Mike Lenhoff, estrategista-chefe na Brewin Dolphin. Como resultado, a diferença entre os juros de títulos de Espanha, Portugal e Itália em comparação com os bônus alemães aumentou e o custo do seguro da dívida contra eventual calote desses países cresceu. A pressão atingiu o euro, que chegou a ceder abaixo de US$ 1,30 pela primeira vez desde abril de 2009. A moeda norte-americana, por outro lado, subiu ante outras divisas, impulsionada ainda por fortes dados da economia dos EUA. Essa desconfiança, combinada com os rumores de dificuldades da Espanha, abalaram também as bolsas nos Estados Unidos, que tiveram a pior sessão em três meses. ¿Não há confiança no que a UE e o FMI propuseram para a Grécia¿, afirmou Dean Popplewell, estrategista-chefe de câmbio da Oanda, uma corretora em Toronto. A queda generalizada ocorreu em meio a uma onda de temor que abateu os mercados financeiros.