Título: Novo aeroporto em Petrolina inicia resgate da dívida com NE, diz Lula
Autor: Paulo Emílio
Fonte: Valor Econômico, 12/11/2004, Brasil, p. A5

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, inaugurou ontem em Petrolina, sertão de Pernambuco, o primeiro aeroporto industrial do Norte e Nordeste, onde foram investidos R$ 38 milhões. O presidente disse durante seu discurso que é necessário resgatar a dívida social que o país tem com a região Nordeste e que o aeroporto, instalado em uma área com forte potencial exportador - o Vale do São Francisco é responsável por mais de 90% das exportações nacionais de uvas de mesa e de mangas do país - é apenas o primeiro passo nessa direção. O presidente anunciou, ainda, que entre o fim deste mês e o início de dezembro será lançado oficialmente o programa do biodiesel e que os projetos da transposição do rio São Francisco e da Ferrovia Transnordestina devem ser viabilizados em breve. Ele também defendeu a criação de uma política industrial voltada para o Nordeste. Lula declarou que entre as décadas de 50 e 80 o Brasil foi um dos países que mais cresceu no mundo, mas que não conseguiu distribuir de maneira igualitária a riqueza gerada. Segundo o presidente, o Nordeste foi uma das regiões que mais sofreram. O presidente disse ainda que falta uma política de continuidade aos projetos e programas que são implementados pelos governantes. "Muitos políticos não conseguem pensar em 20 ou 30 anos na frente. Pensam só no seu mandato. Dos quatro anos de um mandato, pelo menos um ano e meio é dedicado às eleições. Se os projetos fossem construídos de forma coletiva eles teriam conclusão", disse. Afirmando que o país deixou de ter uma política industrial nos últimos anos e que agora esta diretriz começa a ser retomada "levando em conta o Nordeste brasileiro", Lula disse que o primeiro ano de mandato é o mais difícil em termos financeiros. Isso porque o orçamento foi feito no ano anterior, com prioridades estabelecidas por um outro governo. "Agora estamos completando 22 meses de governo e este país finalmente encontrou o caminho do desenvolvimento e não o do crescimento do vôo da galinha, que cresce em um ano para cair no próximo". Afirmando que o Brasil precisa de um ciclo de crescimento sustentável com uma maior geração e distribuição de riquezas, Lula exemplificou esta retomada com números sobre a economia. Os dados citados pelo presidente apontam que as vendas industriais nos últimos doze meses cresceram perto de 15% e a massa salarial foi ampliada em 11%. "Os pessimistas, até mesmo os do governo, devem estar procurando explicações, já que vamos crescer 4,5% ou até mais. Eles diziam que cresceríamos no máximo 3% este ano", disse. Lula contou que acredita ser possível que o país atinja em alguns meses a marca de US$ 100 bilhões em exportações. O presidente declarou, ainda, que o projeto do biodiesel, que está para sair até dezembro, será um meio de diminuir a dependência nacional da importação do diesel comum. "O programa prioriza o semi-árido e o Vale do Jequitinhonha em função da produção de mamona. O biodiesel de soja talvez seja melhor, mas beneficia regiões mais ricas como São Paulo". A responsabilidade da distribuição do biodiesel ficará a cargo da Petrobras. Após a solenidade, o presidente visitou estandes da Feira Nacional da Agricultura Irrigada (Fenagri), onde comeu frutas produzidas na região do Vale do São Francisco. No Rio, pela manhã, Lula disse que o governo tem uma grande expectativa de recuperar os 11 portos por onde escoam 80% das exportações brasileiras. Para isso, destacou, espera que a Parceria Público Privada (PPP) seja aprovada pelo Senado o mais rápido possível. Ao presidente mundial do grupo PSA Peugeot Citroën, Jean-Martin Folz, disse: "Vocês não vão se arrepender de um dia ter acreditado no Brasil".