Título: Apoio a ministro divide PSDB e PFL
Autor: Cristiano Romero e Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Valor Econômico, 29/11/2005, Política, p. A7

O presidente do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), afirmou que o plano de um ajuste de longo prazo proposto pelo ministro da Fazenda, Antonio Palocci, com a manutenção de um superávit primário alto por dez anos, poderá ser apoiado pela oposição caso o ministro ainda tenha força política para apresentá-lo. "A economia tem que ser ultra-ortodoxa mesmo. É a história da mulher de César, que não basta ser honesta, precisa parecer honesta. Em função da debilidade política do governo, é preciso um superávit fiscal maior que o necessário. Definida uma linha de superávit a longo prazo, ninguém precisaria dar mais demonstrações de hiper-ortodoxia ao mercado, para ser visto apenas como ortodoxo. Devemos olhar o equilíbrio fiscal como um dogma", afirmou o senador, ao sair de um seminário sobre Indústria do Turismo em São Paulo. Tasso disse que a situação do país tende a se agravar caso o ministro Palocci seja substituído em função das denúncias de corrupção que pesam sobre ele e da disputa interna dentro do governo. "Ele é ainda o restinho de governo que existe. O resultado é medíocre, mas pelo menos a economia está em equilíbrio. Temo que ele saindo o presidente encontre qualquer coisa amalucada para pôr no lugar". O tucano procurou contudo fugir da condição de avalista ou garantidor de Palocci. "Quem acha melhor o ministro ficar não sou eu, é o governo. Muito ruim é o presidente ficar jogando o ministro para cima e para baixo, ora o enfraquecendo, ora o fortalecendo", disse. O dirigente tucano não levou a sério o lançamento de seu nome como pré-candidato à Presidência, feito pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. "Ele gosta de complicar", afirmou, ao negar a candidatura. A entrada de Palocci no cenário da crise política rachou a oposição. Desde o começo das denúncias envolvendo o ministro da Fazenda, o PSDB poupa Palocci. O partido agiu para que sua convocação para depor na CPI dos Bingos fosse transformada em convite, concordou que Palocci antecipasse a sua ida à Comissão de Assuntos Econômicos do Senado para depor e, da mesma forma que o PFL, evitou fazer perguntas sobre as suspeitas lançadas contra o ministro pelo seu ex-assessor, Rogério Buratti. Durante o depoimento de Palocci na CAE, deu apoio irrestrito ao ministro em sua disputa por poder contra a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, que combate o plano de ajuste a longo prazo. Já o PFL, cuja cúpula se reuniu ontem no Recife, demonstra que o seu recuo na linha de bombardeio ao ministro quando Palocci foi ao Senado foi apenas circunstancial. O partido trabalha para debilitar Antonio Palocci e colaborar para a sua demissão. O porta-voz dos ataques foi o prefeito do Rio de Janeiro, Cesar Maia, lançado pelo partido em dezembro como pré-candidato à Presidência. De acordo com o prefeito, "o ministro Palocci foi o coordenador de um grupo de corruptos. Ele é responsável por incompetência ou por omissão. Tem que sair". Cesar Maia também criticou a postura do PSDB diante da crise. Ele disse ter conversado no fim de semana com o prefeito de São Paulo, José Serra (PSDB), presidenciável da sigla com quem o pefelista tem mais afinidade, sobre a dubiedade do discurso tucano frente as denúncias de corrupção que atingem o governo federal: "O Serra disse que é da natureza do PSDB ser conciliador. Mas não se pode conciliar com a corrupção. A hipotética eficiência da estabilização econômica basta para cobrir um grupo de corruptos que está completamente exposto?" O presidente do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC), ficou umtom abaixo de Maia. "O ministro ainda tem que dar explicações sobre casos como o IRB, por exemplo", comentou. O líder do PFL no Senado e cotado como vice em uma possível coligação com os tucanos, o senador José Agripino (RN), disse que as novas inquirições ao ministro precisam ser mais agressivas. "Temos que ter cuidado para evitar transformar os questionamentos em uma nova entrevista coletiva".