Título: Kirchner é eleito para dirigir bloco
Autor: Vaz, Viviane
Fonte: Correio Braziliense, 05/05/2010, Mundo, p. 17

Surpresa foi o apoio do Uruguai, que permitiu escolha do secretário-geral por unanimidade

Reunidos em um luxuoso resort de golfe em Campana, a 60km de Buenos Aires, os presidentes da União de Nações Sul-Americanas (Unasul) decidiram ontem que o primeiro secretário-geral do bloco será o ex-presidente e deputado argentino Néstor Kirchner. A escolha não foi surpreendente, pois nenhum país apresentou candidatos para concorrer com o escolhido. A surpresa ficou por conta do presidente uruguaio, José Mujica, que deixou o caminho da ¿abstenção¿, como vinha sinalizando anteriormente, e optou por apoiar Kirchner, para que fosse eleito por unanimidade. ¿Sem pedir condições e sem que ninguém nos tenha imposto condições, acompanhamos o consenso pela unidade da América Latina e, com esse gesto, vamos continuar apostando na boa-fé do povo argentino¿, declarou Mujica na hora do voto. Seu antecessor imediato, Tabaré Vázquez, vetou Kirchner em 2008 por causa de um conflito entre os dois países sobre a construção de uma fábrica de celulose na fronteira. A presidenta Cristina Kirchner, mulher do eleito, foi a única que se absteve ¿ por ¿razões óbvias¿, segundo explicou. Apesar de Néstor Kirchner não exibir um histórico de destaque em reuniões de cúpula, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se declarou ¿100%¿ de acordo com a escolha. ¿A designação (do secretário-geral) é uma etapa mais de consolidação da Unasul. Kirchner tem experiência, conhece o continente, as diferenças políticas e ideológicas que temos no continente¿, afirmou Lula, que viajou na companhia de seu assessor internacional, Marco Aurélio Garcia. O ex-presidente argentino dirigirá a Unasul por dois anos, mas terá de encarar investigações na Argentina, como suspeito de participar de um esquema de subornos nas exportações para a Venezuela, durante seu mandato (2003 a 2007). O presidente venezuelano, Hugo Chávez(1), não comentou o caso e confirmou o apoio a Kirchner, dizendo que o argentino ¿move em todos o ânimo da cooperação¿. Mesmo que seja inocentado, analistas políticos acreditam que Kirchner deve ficar somente um ano à frente da Unasul, pois deve ser novamente candidato à Presidência da Argentina em 2011. Outros temas ocuparam a reunião dos 10 presidentes da Unasul ¿ os mandatários do Peru, Alan García, e da Colômbia, Álvaro Uribe, não compareceram. Todos os países aprovaram a continuidade da ajuda ao Haiti e ao Chile, afetados por terremotos no início do ano. A respeito do Paraguai, o estado de exceção em cinco estados do norte do país e a atuação do narcotráfico na fronteira com o Brasil dominaram a pauta. A Argentina conseguiu mais uma vez o apoio do bloco a sua reivindicação de soberania sobre as ilhas Malvinas, contra o Reino Unido. Quanto a Honduras, os presidentes não chegaram a consenso sobre o reconhecimento do presidente Porfírio Lobo. Lula liderou a oposição à legitimação de Lobo, argumentando que ele venceu uma eleição organizada por um governo golpista. Os chanceleres do Peru, José Antonio García Belaúnde, e da Colômbia, Jaime Bermúdez, defenderam o reconhecimento. Lula sugeriu ainda a volta do presidente deposto, Manuel Zelaya, a Honduras. Os países-membros da Unasul também decidiram rechaçar a nova legislação do estado americano do Arizona que criminaliza imigrantes irregulares mediante o conceito de ¿dúvida razoável¿. O bloco afirmou que a lei poderia significar a ¿legitimação de atitudes racistas na sociedade de destino e um risco latente de violência movida por ódio racial¿.