Título: Governo brasileiro elogia o novo chanceler
Autor: Sergio Leo
Fonte: Valor Econômico, 29/11/2005, Internacional, p. A8

O governo brasileiro assistiu às mudanças no governo argentino com alívio e satisfação, em relação ao Ministério de Relações Exteriores, e com expectativa em relação à equipe econômica. "A saída de [Rafael] Bielsa do Ministério de Relações Exteriores era previsível; seu substituto é um ótimo nome, um diplomata muito qualificado que aposta muito no Mercosul", disse o assessor especial da Presidência da República do Brasil, Marco Aurélio Garcia, que não quis, porém, falar sobre a saída de Roberto Lavagna do Ministério da Economia. "É uma questão interna", alegou. No governo brasileiro, concentrado em garantir o êxito do encontro, amanhã, dos presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Néstor Kirchner, a maior preocupação era em relação aos acordos negociados para aprofundar a integração política e jurídica entre os dois países, com tratados também nas áreas nuclear e militar. Lavagna, há duas semanas, havia ameaçado recusar a assinatura de todos os acordos caso o governo brasileiro não aceitasse a proposta argentina de criação de salvaguardas comerciais capazes de estabelecer barreiras no comércio entre os dois países. Com a saída do ministro, o governo brasileiro recebeu da chancelaria argentina a informação oficiosa de que os acordos previstos para a cerimônia entre os dois presidentes estariam mantidos. Segundo Garcia, o governo brasileiro está satisfeito com os sinais positivos emitidos pelo gabinete de Kirchner quanto à retomada da aproximação entre os dois governos. A reunião de amanhã, disse ele, servirá para que os dois presidentes discutam uma estratégia comum e de longo prazo para o Mercosul e para os países do continente sul-americano, com ação combinada para a integração de infra-estrutura e mecanismos de financiamento comum. "No centro da nossa agenda está o fortalecimento de instituições para dar eficácia ao Mercosul e evitar que os presidentes tenham de se reunir para discutir secos e molhados." Na equipe de Lula, porém, como nos mercados financeiros, a saída de Lavagna abriu um período de expectativa, já que é vista como sinal de que Kirchner estaria insatisfeito com o manejo da política econômica. Até ontem, porém, o governo brasileiro não havia recebido nenhum indício do que poderá mudar, na economia argentina, com a troca do experiente Lavagna pela economista Felisa Miceli.