Título: "Fila" poderá ser obstáculo para CPI
Autor: Juliano Basile e Mauro Zanatta
Fonte: Valor Econômico, 29/11/2005, Agronegócios, p. B11

A instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar a cartelização dos frigoríficos na compra de bois terá que enfrentar uma fila de 32 comissões à espera de confirmação na Câmara dos Deputados. Há, ainda, outra cinco CPIs em funcionamento. Para driblar esse excesso de propostas, a bancada ruralista estuda duas alternativas: aprovar um projeto de resolução no plenário da Câmara por dois terços dos deputados ou instalar uma CPI Mista no Senado. "A proposta de CPI tem muito apoio na Câmara. Ainda mais com esse clima criado com a questão da defesa agropecuária e do surgimento da aftosa", acredita o presidente da Frente Parlamentar da Agricultura, Moacir Micheletto (PMDB-PR). A gravação em que o dono do frigorífico Friboi, José Batista Júnior, admite a cartelização, divulgada pela "Folha de S. Paulo", desatou uma corrida dos ruralistas em busca de apoios à criação da CPI. O presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PCdoB-SP), declarou apoio à iniciativa, mas condicionou-o a um consenso entre ruralistas e as lideranças partidárias da Casa. Do contrário, não pretende assumir o ônus da causa ruralista. O presidente da Comissão de Agricultura, Ronaldo Caiado (PFL-GO), anunciou ontem a realização de audiência pública para discutir as afirmações do dono do Friboi. A reunião, prevista para amanhã, decidirá qual opção será adotada pelos ruralistas. Foram convocados os donos do Independência, Bertin, Mataboi e Frigoara, citados por Batista Júnior na fita de vídeo. A iniciativa dos ruralistas tem apoio até mesmo dentro do segmento. "O Congresso precisa entrar nesse caso o mais rápido possível", diz o presidente da Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo), José João Stival. Ele estará na audiência na Câmara. A briga dos ruralistas reacendeu uma disputa paroquial de Anápolis, a segunda maior cidade de Goiás. Inimigas políticas, as famílias Batista e Caiado duelam pelo controle político local. Também há quem considere que Batista Júnior foi inábil politicamente no lançamento de sua pré-candidatura ao governo estadual. "Ele foi arrogante, quis ocupar um espaço sem negociar", diz Stival em referência às consultas feitas por Júnior ao prefeito de Goiânia, Iris Rezende, e ao governador do DF, Joaquim Roriz. Ambos são do PMDB e adversários de Perilo. "Ele ofendeu a toda base de apoio de Perilo", diz Stival. Para algumas fontes do setor de carnes ouvidas pelo Valor, a própria denúncia contra o dono do Friboi seria uma forma de minar a sua candidatura. (MZ, com AAR)