Título: Dois lados da queda mais forte do PIB
Autor: Cristiane Perini Lucchesi
Fonte: Valor Econômico, 29/11/2005, Finanças, p. C2

O mercado já dá como certa a queda do Produto Interno Bruto (PIB) no terceiro trimestre, de 0,3%, a primeira retração econômica em cerca de dois anos. Mas, se os números a serem divulgados pelo IBGE amanhã surpreenderem e o tombo for maior, o impacto será imediato no mercado de juros futuros, que vão passar a projetar taxas mais baixas, na expectativa de que o corte nos juros básicos Selic neste mês seja maior do que 0,5 ponto percentual, para 18% ao ano. Pela lógica do sistema de metas de inflação, um PIB menor possibilitaria redução maior nos juros, pois o risco da inflação por excesso de demanda se torna menor. A retração econômica maior do que a esperada, no entanto, pode fazer crescer a crítica à política monetária do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, fornecendo argumentos para os descontentes no interior do governo e aumentando "a temperatura política em Brasília", diz Maurício Oreng, economista do Unibanco. Afinal, os mesmos juros altos que estão segurando o crescimento econômico fazem com que a conta de juros da dívida pública custe 8,1% do Produto Interno Bruto em 12 meses até outubro, ou R$ 155,4 bilhões, segundo os números divulgados ontem, e mantêm o déficit fiscal nominal em 12 meses a 3% do PIB. O superávit primário (sem considerar juros) foi para 5,13% do PIB em outubro em 12 meses e a 6% no ano, bem acima da meta de 4,25%, reafirmada ontem pelo presidente Lula, em discurso para acalmar integrantes do governo. O economista-chefe do BNP Paribas, Alexandre Lintz, aposta que, por mais que faça um esforço para gastar, o governo não vai conseguir reduzir o superávit primário para menos do que 5% no ano em dezembro.

BC faz hoje novo leilão de swap reverso

São também os juros altos que estão mantendo forte a valorização do real. Ontem, pela primeira vez desde que o BC voltou, neste mês, a comprar dólar no mercado futuro por meio do swap reverso, o dólar caiu mesmo em dia de leilão, uma amostra de que mais esse instrumento já se tornou inócuo. A queda foi de 1,43%, para R$ 2,2020 (queda de 17% no ano), e pegou muitos de surpresa. O BC comprou US$ 502,5 milhões em dólar no mercado futuro e mais cerca de US$ 300 milhões no mercado à vista, mas a moeda americana caiu o dia todo. A explicação de alguns era de um fluxo externo de US$ 300 milhões a US$ 500 milhões de empresas ingressando com recursos - a Eletrobrás e uma grande empresa telefônica. Outros falavam em uma queda de braço do mercado com o BC às vésperas do fim do mês. Os bancos e investidores estariam pressionando por volumes maiores nos leilões de swap reverso, de US$ 1 bilhão ou mais. Na tentativa de conter a queda do dólar, o BC já anunciou para hoje outro leilão de swap reverso de US$ 500 milhões. Hoje é o dia da formação da taxa média (ptax) que vai determinar o dólar de entrada nos swaps reversos vendidos ontem - por isso, o interesse dos investidores que venderam dólar futuro para o BC no leilão de ontem é puxar o dólar médio para cima hoje.