Título: Empréstimo depende de preparação do empresário e análise de projeto
Autor: Adriana Aguilar
Fonte: Valor Econômico, 29/11/2005, Valor Especial / MICRO E PEQUENA EMPRESA, p. F3

O empréstimo de dinheiro está relacionado ao grau de preparação e conhecimento do empresário. Em qualquer instituição financeira, para obter crédito, é necessário que o empresário seja cliente do banco, que traga a folha de pagamentos, as cobranças da empresa e outros serviços bancários. Dificilmente, o empresário conseguirá barganhar boas taxas de juros em um banco onde não tem conta. Os bancos costumam ser rigorosos na análise de cada projeto e na viabilidade econômica dele. A intenção é diminuir os riscos de crédito. Quando se trata de capital para investimento, com prazos de pagamento mais longos, são exigidos vários documentos. Entre eles: contrato social, declaração do Simples - caso a empresa seja optante desse sistema -, relações dos sócios, comprovante do Refis, entre outros papéis. Segundo o gerente de pesquisas econômicas do Sebrae de São Paulo, Marco Aurélio Bedê, atualmente, o Sebrae de São Paulo está realizando uma pesquisa sobre o grau de acesso à financiamento das micro e pequenas empresas. Os resultados estarão disponíveis apenas em fevereiro de 2006. Uma pesquisa já feita pelo Sebrae em fevereiro de 2004, em São Paulo, constatou que 40% das micro e pequenas empresas já fizeram empréstimo bancário em algum momento. Mas, outras 60% nunca tomaram financiamentos por desconhecimento ou dificuldades para a obtenção dos recursos. Na pesquisa, foram consultadas um terço do total de micro e pequenas empresas do país, localizadas no Estado de São Paulo. O relacionamento antigo, de 16 anos, contribuiu muito para a rápida liberação do empréstimo de R$ 250 mil ao dono da Vissi Indústria de Calçados, Edson Rodrigues Lacerda, em agosto passado. "O departamento de contabilidade da empresa preparou os documento e a aprovação do financiamento foi feita em dois dias", diz Rodrigues. A partir daí, houve uma carência de três meses para o início do pagamento, até o proprietário receber o equipamento comprado e colocá-lo para funcionar. Durante essa fase, a Vissi recebeu por três vezes a visita do gerente do banco disposto a avaliar o investimento feito. Somente em novembro as prestações começaram a ser pagas ao Bradesco, com uma taxa de juros mensal de 2,4% ao mês. "O percentual é alto, mas a aquisição rápida de novos equipamentos permitiu o melhor acabamento e maior número de recursos de modelagem na produção de tênis e sandálias infantis", explica Rodrigues. Toda a dívida será paga em 18 meses. A variedade da produção era essencial para a empresa de calçados, fundada há 16 anos e com sede na cidade de Nova Serrana, em Minas Gerais. Com 123 funcionários e faturamento mensal entre R$ 550 mil e R$ 650 mil, a Vissi Indústria de Calçados exporta 25% da produção para a Argentina. Os 75% restantes ficam no Brasil. Atualmente, Rodrigues mantém negociações com o Peru, Portugal e México para a exportação dos calçados infantis produzidos. O empresário soube da linha de financiamento do Bradesco quando participou do Arranjo Produtivo Local (APL), que conta com a participação de outras 360 pequenas empresas de Nova Serrana. Os APLs promovem cursos, palestras e congressos para o aperfeiçoamento da mão de obra e da produção. Na cidade, há pelo menos 842 empresas de calçados, filiadas ao Sindicato da Indústria de Nova Serrana, integrante do APL. O tempo de relacionamento com o Banco do Brasil também fez a diferença durante o pedido de empréstimo da Atual Viagens e Turismo Ltda, há 10 anos inaugurada na cidade de Maceió, capital de Alagoas. Hoje, a agência com 2,5 mil metros quadrados, conta com 30 funcionários e faturamento mensal de R$ 80 mil. Em 2003, quando o proprietário da agência, Glauco Antonio Assumpção Cahu, decidiu tomar um empréstimo no banco para financiar a compra de um mini ônibus, ele já era cliente da instituição a 10 anos. A intenção do microempresário era tornar mais agradável o transporte dos clientes em um mini ônibus de 20 lugares, com ar condicionado, que permitisse ao passageiro viajar em pé, quando tivesse vontade. Na época, Cahu tinha quatro ônibus grandes não tão apropriados para a função. Interessado no Proger Turismo, Cahu juntou os documentos, comprovou o faturamento e teve sua capacidade de pagamento avaliada pelo gerente de agência do BB em Maceió. O resultado foi a liberação de R$ 80 mil para ser pago em cinco anos, com a incidência da TJLP mais 5,33% ao ano. (A.A.)