Título: Governo faz ofensiva sobre PMDB
Autor: César Felício e Maria Lúcia Delgado
Fonte: Valor Econômico, 12/11/2004, Política, p. A8

Partidos Movimentação não conta com a ajuda de José Dirceu, que diz duvidar que partido deixe a base

O governo federal faz uma ofensiva para manter o PMDB aliado ao Planalto. O partido convocou uma convenção para 12 de dezembro em que decidirá se rompe ou não com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Acenar com maior espaço para o PMDB na reeleição do presidente Lula em 2006, com apoio ao partido nos Estados e até mesmo com a vaga de vice na chapa de Lula é a arma dos governistas para fortalecer a ala pemedebista que deseja permanecer no governo. A aproximação não conta com a ajuda de um dos principais integrantes do governo, o ministro da Casa Civil, José Dirceu. "Não vai acontecer nada. Duvidam? É só o governo não fazer nada que eles (o PMDB) não sabem o que fazer", afirmou em conversa com jornalistas, durante jantar em homenagem ao secretário de Imprensa da Presidência, Ricardo Kotscho. O primeiro gesto em direção ao PMDB foi na noite de anteontem, em uma reunião do coordenador político do governo, o ministro Aldo Rebelo, com a parte governista da cúpula do PMDB. Ouviu do grupo que somente uma decisão explícita do PT em relação às alianças para 2006 - tanto a Vice-Presidência quanto nos Estados - vai acalmar o partido. "Não há como falar de aliança de coalizão no governo sem que a gente enfoque 2006. E, para que isso aconteça, precisamos agora reunificar o PMDB", afirmou o líder do partido no Senado, Renan Calheiros (AL). Ontem, o presidente do PT, José Genoino, encontrou-se com o presidente do PMDB, Michel Temer, que pende para a independência. Depois dirigiu-se aos gabinetes do líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL) e do presidente da Casa, José Sarney (PMDB-AP). Na semana que vem, será a vez de Aldo almoçar com Temer. Lula deve se encontrar com o líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros, em Alagoas, e um encontro do presidente com a direção do partido, antes da convenção pemedebista, será agendado para breve. Não há conversas agendadas dos articuladores do governo com os governadores pemedebistas. A hipótese no Planalto é que a resistência nos Estados diminuirá caso o PT abra caminho para negociar aliança por aliança. Como no Rio Grande do Sul, em Pernambuco e no Distrito Federal o PT é o principal inimigo do PMDB, a aproximação não será fácil. Diante das dificuldades regionais, a estratégia será aumentar o espaço do PMDB no que os dirigentes de ambos os partidos chamam de "projeto nacional". Em Petrolina, o governador de Pernambuco, Jarbas Vasconcelos, defendeu mais uma vez a saída do PMDB do governo federal. Segundo ele, o sentimento majoritário é de que o PMDB deve ter mais liberdade. Após o encontro, Genoino procurou acenar com novidades para o PMDB e ao mesmo tempo manter fechado o debate sobre a eleição seguinte: "Em relação a 2006, o PT está aberto a discutir uma proposta mais avançada de aliança, quando o momento de se fazer essa discussão for adequado". De concreto, ficou definido que o partido acompanhará o PMDB na articulação para derrubar a verticalização das coligações. O pemedebista reforçou que, sem a posição de aliado preferencial para 2006, ficará difícil conter o ímpeto dos governadores. "O PMDB tem que deixar o adesismo para fazer uma coalizão. O erro conceitual do PT foi achar que o PMDB poderia simplesmente aderir", disse Temer. Os governistas do PMDB procuraram passar ao Planalto um balanço otimista sobre a convenção, mostrando que ainda mantêm a situação sob controle. Durante o jantar com Rebelo, os deputados do partido fizeram um mapeamento de todos os diretórios regionais. Há a garantia de que pelo menos 15 apoiariam a permanência no governo. A aproximação entre PT e PMDB pode se frustrar, entretanto, por um episódio paralelo. O motivo foi uma reportagem do jornal "Correio Braziliense" com informações sobre suposta evasão de divisas praticadas pelo senador Ney Suassuna (PMDB-PB). Os dados teriam partido da CPI do Banestado, cujo relator é o deputado José Mentor (PT-SP), próximo a Dirceu. Em reserva, pemedebistas começaram a pensar que Dirceu age para afastar o partido do governo. Genoino desmentiu o envolvimento de qualquer petista na denúncia.