Título: Dirceu reafirma apoio à emenda da reeleição
Autor: Cristiano Romero e Maria Lúcia Delgado
Fonte: Valor Econômico, 12/11/2004, Política, p. A8

Três dias depois de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticar a emenda da reeleição das mesas diretoras da Câmara dos Deputados e do Senado, chamando-a de "inoportuna", o ministro da Casa Civil, José Dirceu, voltou a defendê-la. "Se depender de mim, o João Paulo (atual presidente da Câmara e maior defensor da emenda da reeleição) será o futuro presidente da Câmara", disse Dirceu, na noite de quarta-feira, durante jantar em homenagem aos 40 anos de profissão de Ricardo Kotscho, o secretário de imprensa do presidente Lula. Lula fez o desabafo contra a reeleição na noite de segunda-feira, quando retornava para Brasília de viagem a São Paulo. O presidente, segundo seus auxiliares mais próximos, convenceu-se de que a emenda da reeleição, de tão polêmica, emperrou as votações no Congresso. Uma prova disso é que, mesmo com o governo tendo liberado nos últimos dias recursos orçamentários referentes a emendas de parlamentares, a obstrução das votações continua paralisando os trabalhos. Partidário da reeleição, o ministro José Dirceu duvida da tese de que não há mais tempo hábil para votar a emenda. "Nunca se sabe o dia de amanhã", disse ele. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva dará mais um sinal de que a reeleição das mesas diretoras da Câmara e do Senado pode ser uma atitude política despropositada, na medida em que ela alimenta a crise no PMDB. Na segunda-feira, quando participará da inauguração do Memorial da República, em Maceió, Lula pretende ter um encontro reservado com o líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL), candidato à sucessão de José Sarney. Na conversa, entraria na pauta também a ameaça do PMDB de deixar o governo. Calheiros já ouviu de interlocutores de Lula que o governo não se empenhará na aprovação da proposta de emenda constitucional (PEC) que garantiria a reeleição de Sarney e João Paulo. No entanto, o fato de Lula ter declarado que considera a reeleição inoportuna deu fôlego ao senador alagoano. "Foi uma garantia explícita de que o Lula não quer que o Palácio meta a mão nisso", analisou um pemedebista. Os senadores do PMDB não aceitam a proposta de alterar a regra da sucessão na tentativa de minimizar a crise, dando a presidência da Câmara ao partido e deixando o Senado ser presidido pelo PT. A avaliação dos aliados do líder pemedebista é que os gestos de Lula enfraquecem qualquer articulação do principal defensor da reeleição no governo, o ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu. O ministro, ontem, telefonou para Renan Calheiros e para o líder do PMDB na Câmara, José Borba (PR). A razão do telefonema foi manifestar o quanto é fundamental para a governabilidade a presença do PMDB na base aliada. De qualquer forma, a ligação de Dirceu foi interpretada como um sinal de que parte do Palácio do Planalto começa a constatar a ausência de clima político para votar a PEC da reeleição. Na outra ponta do Palácio do Planalto, o ministro da Coordenação Política, Aldo Rebelo, analisa com cautela a crise no PMDB. Inicialmente o governo interpretava a rebelião pemedebista apenas como um blefe para reivindicar mais espaço político e negociar espaço na chapa de Lula com a Vice-Presidência, em 2006. Agora, o sinal amarelo foi aceso no governo. Aldo Rebelo sempre exaltou o quanto o partido é importante para o governo, e não é a favor da reeleição exatamente pelos conflitos que ela geraria. Depois da reunião da Executiva Nacional do PMDB, o ministro convidou Renan Calheiros, Borba e deputados pemedebistas para um jantar em sua residência na noite de quarta-feira. Como o clima no PMDB ainda é de muita tensão, os parlamentares alegam que nem sequer foi possível analisar o tema reeleição. "A reeleição é um problema do Legislativo, e cabe aos partidos majoritários dar uma indicação sobre o tema", insistiu Calheiros.