Título: Staub critica política econômica e indica frustração com Lula
Autor: Ricardo Balthazar
Fonte: Valor Econômico, 01/12/2005, Brasil, p. A4

Conjuntura Empresário que ajudou PT nas eleições de 2002 manifesta desencanto em rara aparição pública

O presidente da Gradiente, Eugênio Staub, manifestou ontem um profundo desencanto com a situação do país e os rumos tomados pelo governo petista. Numa rara aparição pública, o empresário evitou atacar diretamente o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que ajudou a eleger em 2002, mas deu uma demonstração clara de sua insatisfação. Num dia de notícias ruins para a economia, Staub classificou a política econômica adotada por Lula como "extremamente conservadora" e disse que ela é "talvez mais conservadora" que a do governo anterior. Ao comentar a queda do Produto Interno Bruto (PIB) no terceiro trimestre, foi seco: "Me surpreende que isso surpreenda alguém", disse Staub. "É a conseqüência do que foi feito." O dono da Gradiente, que se tornou avesso a entrevistas nos últimos tempos e tem evitado manifestações públicas como essa, participou ontem de um almoço com empresários e executivos organizado pela Fundação Casimiro Montenegro Filho, organização que capta recursos financeiros para pesquisas do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) e de outras instituições. Em conversas com outros empresários, Staub começou a demonstrar insatisfação com Brasília muito antes do escândalo do mensalão. Desde o ano passado, ele vinha fazendo críticas à política econômica e à lentidão da administração em várias áreas. Mas ele evita discutir essas questões abertamente para não criar complicações para Lula. Ontem, provocado por uma pergunta da platéia que lhe pedia uma avaliação da crise política, Staub fugiu do tema. "Sobre política só falarei na próxima encarnação", afirmou. "Interprete como quiser." Na campanha presidencial de 2002, Staub foi o primeiro empresário com prestígio entre os colegas a declarar apoio a Lula. Ele aderiu à campanha petista quando faltavam duas semanas para o primeiro turno, num momento em que a vantagem eleitoral de Lula era grande mas sua candidatura era vista com enorme desconfiança no mercado financeiro e no meio empresarial. Na palestra que fez no almoço de ontem, o empresário disse que as baixas taxas de crescimento da economia brasileira nos últimos anos são o reflexo de políticas econômicas equivocadas adotadas por sucessivos governos. "O Brasil perdeu o rumo", afirmou. "O país melhorou em vários aspectos, mas perdemos espaço na economia mundial." Três comentários feitos por Staub ajudam a entender sua frustração com os petistas. No primeiro, ao responder à pergunta de um executivo, ele criticou o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), criado por Lula para promover o diálogo com líderes empresariais e de outros setores da sociedade. Para Staub, que é integrante do conselho, ele "virou uma perda de tempo" e é "uma ótima idéia que não funcionou". De acordo com as atas que registram as reuniões do conselho, a última vez Staub apareceu ali foi em maio de 2004. "Não sei dizer como ele está porque não freqüento [as reuniões] há mais de um ano", disse o empresário. "Amanhã [hoje] tem reunião e eu não vou." Na última reunião do CDES, em outubro, apareceram apenas 34 dos 90 conselheiros. Em outro momento, Staub indicou que está descontente com o andamento do desenvolvimento do sistema brasileiro de televisão digital, projeto que abraçou com entusiasmo no início do governo Lula. "Todo dia o ministro [das Comunicações,] Hélio Costa, que ainda não tive o prazer de conhecer, tem um pronunciamento diferente a respeito", afirmou. Maior fabricante nacional de televisores e aparelhos eletrônicos, a Gradiente tem acompanhado de perto o trabalho dos pesquisadores envolvidos no projeto e tem interesse em influir na decisão que o governo promete tomar no começo do próximo ano sobre o modelo de televisão digital que será adotado no país. Staub também contou que participou durante meses de um grupo de trabalho organizado pelo Ministério da Ciência e Tecnologia a pedido de Lula para definir um plano para o governo na área de nanotecnologia. O documento que resultou dessas discussões até hoje não foi apresentado ao presidente. "Que eu saiba, ele nunca viu", disse Staub.