Título: Economistas revisam projeções e país pode crescer apenas 2,3% este ano
Autor: Chico Santos e Vera Saavedra Durão
Fonte: Valor Econômico, 01/12/2005, Brasil, p. A5

O fraco resultado do PIB no terceiro trimestre levou os analistas a uma nova rodada de revisão - para baixo - das estimativas para o fechamento deste ano e também o desempenho de 2006. Para alguns, a economia brasileira pode crescer apenas 2,3% em 2005. Outros ainda mantém a perspectiva de uma alta de até 2,8%. Para 2006, a economia vai reagir, mas não o suficiente para se aproximar dos 4,9% de 2004, o recorde até agora do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A expectativa da maioria dos economistas ouvidos pelo Valor é que a variação do PIB no próximo ano fique, na melhor das hipóteses, em 3,7%. O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), órgão do Ministério do Planejamento, que havia previsto 4% no seu último boletim, preferiu deixar uma reavaliação para terça-feira, quando divulga suas novas projeções. O economista Estêvão Kopschitz, do Grupo de Análise Conjuntural do Ipea, considera 2,6% "um bom palpite" para o número final de 2005. Um dos fatores que deverá limitar o crescimento de 2006 é o efeito estatístico chamado "carry over", ou quanto o crescimento de um determinado período influencia o futuro. "O resultado do PIB de 2005 vai ficar em 2,3%, reduzindo bastante o 'carry over' para 2006", disse Pedro Paulo Bartolomei da Silveira, economista-chefe da consultoria Global Invest. Segundo Carlos Thadeu de Freitas Filho, da Assessoria de Planejamento de Investimento-Petros, que também estima em 2,3% o resultado deste ano, se o PIB de 2006 for nulo, o efeito estatístico levado deste ano fará ele crescer 0,8%. Para Silveira, da Global Invest, com um efeito estatístico baixo, e considerando que a taxa de juros declinante só teria efeito no segundo semestre do ano (mesmo se a queda for mais acelerada que o ritmo atual), o crescimento de 2006 vai ficar em 2,8%, podendo chegar a 3,1% devido aos efeitos eleitorais (gastos de campanhas e aceleração de obras). Silveira, como todo o mercado, considerou o resultado do terceiro trimestre deste ano "surpreendente", mas ressaltou que ele veio para colocar na devida ordem clássica a relação entre a taxa de juros e o crescimento econômico. "Isso corrige um pouco o clima de euforia, equivocado, com as taxas de juros tão altas e os investimentos crescendo. Pelo menos agora eu volto a acreditar nos manuais de macroeconomia", afirmou. Para ele, os resultados do segundo trimestre deste ano, quando o PIB cresceu 1,4% sobre o trimestre anterior, é que estavam "estranhos". Ele estimou que no quarto trimestre a economia vai crescer em torno de 1,5%. "Acho que a política monetária deu certo por linhas tortas", disse Braulio Borges, economista da LCA Consultoria. Para ele, o BC poderia ter usado o intervalo de 2,5% (para baixo ou para cima) da meta de inflação que "foi feito para ser usado". Borges projetou um crescimento de 2,8% para este ano, com alta de 3,3% a 3,5% no quarto trimestre sobre o anterior, e estimou que no próximo ano o PIB brasileiro vai crescer de 3,5% a 3,7%, "mais para 3,5%". Nem todos os economistas concordam com a avaliação de que o resultado mais fraco de 2005 irá comprometer o desempenho de 2006. Os analistas da Austin Rating revisaram o PIB de 2005 de 3,4% para 2,6%, mesmo resultado acumulado até setembro. Isso significa que eles esperam um comportamento "nulo" da economia no quarto trimestre, mas indicando "que o pior ficou para trás". Isso abriria espaço para um 2006 "promissor". Por essa expectativa (de uma recuperação mais forte em 2006), eles mantiveram a projeção para a variação do PIB do próximo ano em 3,8%. Para o economista Guilherme Maia, da consultoria Tendências, a economia deverá reagir no quarto trimestre deste ano, mas mesmo assim o resultado final ficará entre 2% e 2,5%. Para 2006, ele estima que a previsão anterior da empresa, que era de 3,4%, não deverá sofrer alteração. A previsão anterior para 2005 era de 2,8%. Maia disse que esperava, como todo o mercado, uma desaceleração no período de julho a setembro, embora não na intensidade ocorrida. A previsão da Tendências era de queda de 0,4%. Para ele, a desova de estoques, somada ao mau desempenho da agropecuária e ao efeito da crise econômica, explica o resultado. Maia isenta o BC de culpa. "O BC não errou. O papel dos juros altos seria reduzir o ritmo de crescimento. Acho que foram outros fatores os responsáveis pelo resultado", avaliou. Para Alexandre Póvoa, da Modal Asset, 2,5% deve ser, a partir de agora, o "teto" para o crescimento de 2005. E como, na sua análise, a queda do PIB no terceiro trimestre está relacionada, entre outros fatores, com a venda dos estoques acumulados pela indústria, ele avalia que o cenário mais provável para o quarto trimestre é o de "recuperação moderada".