Título: Queda reforça, no governo, intenção de investir mais e acelerar corte de juros
Autor: Raquel Landim
Fonte: Valor Econômico, 01/12/2005, Brasil, p. A6

A inesperada retração de 1,2% do Produto Interno Bruto (PIB), no terceiro trimestre do ano comparado ao segundo trimestre, produziu mal estar no governo, que aguardava um PIB negativo mas não nessa proporção, e reforçou a idéia de que é preciso aumentar os investimentos públicos e acelerar a redução das taxas de juros. Nos próximos dias o governo anunciará a liberação de cerca de R$ 1,5 bilhão em recursos para serem empenhados em investimentos na infra-estrutura, sobretudo na área de transportes. E anunciará em breve, também, o compromisso de desembolsar mais de R$ 2 bilhões para projetos de transportes, saneamento e infra-estrutura em saúde, para serem liberados nos dois primeiros meses do ano. A crise política, que se arrasta há sete meses, entrou como componente importante do rol das razões que o governo lista para o decepcionante desempenho do nível de atividade. Ela explica, segundo o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, o fato dos investimentos terem caído (0,9% no trimestre julho-setembro contra o imediatamente anterior), enquanto o consumo das famílias e a massa salarial continuam crescendo. Ou seja, as turbulências políticas que se acentuaram em julho teriam levado empresários a colocarem um freio nos investimentos. Assim, a explicação para a retração do PIB é fruto de um conjunto de razões, cada uma com seu peso: crise política, juros elevados demais por tempo demais, crise na agricultura e alguns problemas metodológicos do IBGE. A área técnica do governo faz vários reparos à metodologia do IBGE, que explicariam boa parte da diferença entre a retração de 0,5% do PIB esperada pelo mercado para esse período, e a anunciada ontem, de 1,2%. Pela metodologia do instituto, reparte-se a produção agrícola por trimestres baseada num sistema em que se considera a produção das commodities mais importantes a cada trimestre e se usa essas informações como "proxi" para todo o setor. No terceiro trimestre, foi o caso do café, laranja e trigo, cuja produção teve queda importante e levou a uma retração de mais de 3% na produção agrícola. Só aí, segundo técnicos do governo, contabilizou-se uma retração de 0,16% no PIB do trimestre. "Assim, pegou-se a redução da produção de trigo, laranja e café como se fosse a redução da produção geral, agudizando a queda e concentrando-a num só trimestre", comentou uma fonte qualificada do governo. Outro aspecto da metodologia, responsável por mais 0,2% da queda do PIB, teria sido a nova forma de fazer o ajuste sazonal do PIB. Entre outros aspectos, ela fez o consumo do governo cair 0,4% justamente no terceiro trimestre, quando os gastos públicos aumentam, assinalam os técnicos. Ou seja, na avaliação de fontes especializadas na política monetária, não foi a taxa de juros a responsável pela retração do PIB, mas sim a crise política, que explicaria uma queda de 0,5% e questões metodológicas pontuais, que teriam produzido a baixa restante. Essas fontes explicam: a alta dos juros começou em setembro de 2004. No segundo trimestre de 2005, a política monetária já estava à pleno vapor e a economia cresceu 1,1%. Em setembro último, o Banco Central começou a reduzir a taxa de juros, mas o mercado já começava a antecipar essa queda antes, e ainda assim, o PIB teve retração de 1,2%. Há um risco potencial da demanda prosseguir em crescimento e a produção, não, o que geraria pressões inflacionárias, dificultando, portanto, a queda dos juros. O ministro do Planejamento não acredita que esse seja um cenário provável para o futuro. Ele está confiante que os empresários vão responder à demanda com aumento da oferta, até porque a capacidade instalada está sub-utilizada e há demanda. Na avaliação do ministro, o quadro já está se revertendo. Indicadores antecedentes como produção da indústria de papelão ondulado; arrecadação tributária; e aumento do crédito indicam que no quarto trimestre o comportamento da nível de atividade será bem melhor. Agora, é hora de refazer as contas. O governo trabalhava com crescimento de 3,4% para este ano e deverá rever essa conta para baixo. Foi uma notícia desastrosa, principalmente tendo-se em vista que o presidente Lula já está com as atenções voltadas para a campanha da reeleição em 2006. Bernardo, porém, minimiza: "Desastrosa, não. Ruim. Pior do que era esperado. Mas com evidências de algumas coisas boas, como o aumento real de 4,2% da massa salarial e o consumo das famílias". O embate entre a ministra chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, e o ministro da Fazenda, Antônio Palocci, já era embalado por informações preliminares do governo que apontavam para uma retração de 0,3% a 0,5% do PIB no terceiro trimestre. O número ficou bem pior e reforçariam a urgência da liberação de recursos. Estes dariam impulso ao crescimento do consumo do governo, que caiu 0,4%.