Título: Para oposição, acabou o trunfo econômico do PT
Autor: Raquel Landim
Fonte: Valor Econômico, 01/12/2005, Brasil, p. A6

O anúncio da retração do PIB no terceiro trimestre foi uma ducha de água fria no discurso otimista do governo sobre os rumos da política econômica. Reforçou o argumento dos críticos do ajuste fiscal, especialmente dos defensores de uma queda acentuada na taxa dos juros. Começando pelo vice-presidente José Alencar, passando pelos presidentes da Câmara, Aldo Rebelo (PCdoB-SP) e do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), até líderes governistas no Congresso, todos expressavam o desapontamento com o desaquecimento da economia. "Eu já esperava, para mim não é nenhuma surpresa. Espero apenas que seja um resultado sazonal", disse o presidente em exercício, José Alencar. "O potencial de crescimento econômico do Brasil é gigantesco e inigualável", frisou. No Congresso, os presidentes das duas Casas não esconderam o desapontamento. "Vi a notícia com muita tristeza. Espero que o governo e a sociedade busquem caminhos para a retomada do crescimento", disse Aldo Rebelo. Renan Calheiros foi mais duro: "O aperto foi muito grande. Indiscutivelmente, o pessoal errou na mão, sobretudo nos juros." O líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), afirmou que a notícia é preocupante, mas há vários elementos no cenário econômico que permitiriam uma reversão. Para o petista, a queda da atividade econômica foi provocada basicamente pela condução da política monetária, que trabalhou com uma "meta irrealista de inflação". Aliado a isso, a pressão pela política de juros, o alto superávit primário, a depreciação do câmbio, a crise da febre aftosa e a crise política são fatores que se somaram para piorar o cenário. "Mas o cenário é favorável para a recuperação", afirmou Mercadante. A oposição considera que o resultado tira do PT o discurso eleitoral para 2006, de bons ventos na economia. Entre projeções variadas, tucanos e pefelistas consideram que o PIB neste ano pode ficar em torno de 2,5%, o que seria um resultado catastrófico. Com esse percentual, os dilemas internos e críticas ao ministro da Fazenda, Antonio Palocci, devem acentuar-se, concluíram. "O trunfo econômico acabou para eles", concluiu o presidente nacional do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE). Para ele, o resultado é desastroso e reflete um quadriênio perdido para o país. O Brasil, ressaltou, ficou atrás de praticamente todo o mundo. A causa da retração do PIB, opina Tasso, é a falta de consenso no governo. "É um governo tão heterogêneo que isso exigiu excesso de ortodoxia na economia", concluiu. O presidente do PSDB afirmou ainda que o governo é "incompetente para gastar, não tem credibilidade para atrair investimentos privados e optou por arrocho em investimentos". O líder do PFL na Câmara, Rodrigo Maia (RJ), classificou o resultado como um desastre. "Esta é a política econômica tão elogiada pelo presidente." O presidente nacional do PPS, deputado Roberto Freire (PE), disse que o grande erro nessas análises é que os crescimentos ou retrações brasileiras só são comparadas com o desempenho do próprio país e, não, com países em mesmas condições de desenvolvimento. "De que adianta crescermos 2,5%, 3%, se países como a China e a Índia crescem 9%, e Argentina e Chile crescem 7%?"