Título: Indústria cresce no 4º tri, mas tem dúvidas sobre 2006
Autor: Sergio Lamucci e Raquel Salgado
Fonte: Valor Econômico, 01/12/2005, Brasil, p. A7

Conjuntura Velocidade da queda de juros e câmbio causam apreensão

Depois do péssimo desempenho do terceiro trimestre, a indústria dá sinais de recuperação nos últimos meses do ano. Embalada pelas vendas de Natal, a expectativa geral é de um quarto trimestre razoável. Para o início de 2006, há cautela entre empresários: as dúvidas quanto à velocidade de queda dos juros e ao nível do câmbio tornam o cenário mais nebuloso. A Marcopolo é uma das empresas que acreditam num quarto trimestre mais positivo, que deve ajudar a reduzir a perda acumulada no ano. De janeiro a outubro, a venda de ônibus completos caiu 12,3% - dos quais 17,3% no mercado interno e 1,7% no externo. Para o vice-presidente José Antônio Martins, é possível que, com a recuperação nos últimos meses do ano, a queda nas vendas fique em 9% ou 10%. Martins reclama fortemente do nível dos juros e do câmbio, que seriam os fatores para explicar o desempenho fraco das vendas internas. Segundo ele, neste ano a companhia exportou bastante porque conseguiu duas encomendas grandes, uma de 1, 6 mil ônibus do Chile e outra de 650 do Qatar. "Para o ano que vem, não há pedidos como esses", afirma. A Semp Toshiba, por sua vez, está otimista tanto em relação ao quarto trimestre quanto ao começo do ano que vem. O diretor de vendas, Luiz Freitas, diz que as encomendas para o Natal ficaram acima do esperado. Segundo ele, as vendas devem crescer um pouco mais que os 20% estimados. Freitas também tem uma expectativa positiva em relação ao primeiro trimestre de 2006: "Até por conta das compras já focadas em Copa do Mundo deve crescer 15% em relação ao mesmo período de 2005". O presidente da Associação Brasileira dos Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos (Eletros), Paulo Saab, diz que o terceiro trimestre foi realmente fraco, mas vê sinais de recuperação mais forte no fim do ano. Ele diz que as vendas em outubro e novembro - pico de movimento do setor - devem crescer cerca de 4% em relação ao mesmo período de 2004, quando o segmento já estava bastante aquecido. No acumulado do ano, ele espera alta de 14%. Saab se mantém cauteloso quanto às perspectivas para o primeiro trimestre do ano que vem, pedindo uma redução mais forte dos juros. Mas há quem esteja cético quanto ao desempenho do quarto trimestre. É o caso do presidente da Associação Brasileira de Embalagens (Abre), Fábio Mestriner. A produção do setor caiu 3,39% no terceiro trimestre em relação ao mesmo período do ano passado. "Isso é preocupante porque esse é o trimestre que costuma ser o melhor para o segmento". De janeiro a setembro, houve queda de 0,1%. A Democrata, fábrica de calçados, vai fechar o ano com um crescimento de 5% nas vendas para o mercado interno. A exportação vai melhor e avançou quase 14%. Como o início do ano costuma ser fraco para o setor de calçados, o diretor comercial e de Marketing da empresa, Marcelo Palodetto estima que as vendas caiam 10% em janeiro, sobre igual mês de 2005. Mas essa situação não deve durar muito e a Democrata projeta para 2006 um crescimento superior ao deste ano. No setor de papel e celulose, o mercado interno tem se mostrado fraco. Boris Tabacof, vice-presidente do Conselho de Administração da Suzano Holding e diretor do departamento de economia do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp), comenta que as vendas domésticas de papel entre janeiro e outubro deste ano caíram 1% e que o resultado final de 2005 deve ficar em torno desse percentual. No total, a produção cresceu 2,2%, puxada pela exportação. O primeiro trimestre do ano que vem, entretanto, ainda é uma incógnita. "Começaremos 2006 com certa apreensão. Se os juros não caírem de forma mais rápida e o câmbio depreciar, o próximo trimestre será desapontador", avisa. Após um segundo semestre positivo, com aumento entre 3% e 4% nas vendas e queda na quantidade de material estocado, a fabricante de tintas Akzo Nobel espera um começo de ano retraído. "Esse é um período desfavorável para o setor e não há sinais de aquecimento do mercado", diz Paulo Gonçalves, diretor da divisão de tintas imobiliárias.