Título: Para escritor, Lula merece 'bengaladas morais'
Autor: Juliano Basile
Fonte: Valor Econômico, 01/12/2005, Política, p. A8

Um dia depois de golpear o deputado José Dirceu (PT-SP) com bengaladas, o aposentado Yves Hublet, 67, afirmou ontem não se arrepender da atitude e disse que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva merece "bengaladas morais" por causa das denúncias de corrupção no governo dele. Apesar de classificar-se como "pacifista", Hublet disse que não se retrataria. "Dei e está dado (a bengalada). Não vou me retratar", disse. Ele afirmou também que o assessor do presidente Luiz Gushiken, chefe do Núcleo de Assuntos Estratégicos, é outro integrante do governo que mereceria "uma bengalada moral". Hublet contou ter votado em Lula, no segundo turno em 1989, e, no primeiro e segundo turno da eleição de 2002: "Me sinto traído. Não foi para isso que o elegi". O aposentado - que prefere ser chamado de escritor e teatrólogo - convocou uma entrevista coletiva no salão de festas do prédio onde mora em Brasília para explicar por que atacou Dirceu com a bengala e chamou-o de "Fristão". "Me baixou Dom Quixote e eu avancei", contou Hublet, que conversou com os jornalistas sentado diante de uma mesa com duas imagens de "Dom Quixote", personagem criado por Miguel de Cervantes. Ao chamar Dirceu de "Fristão", o aposentado também quis fazer uma referência ao personagem. Para Quixote, Fristão é um mago inimigo. De acordo com a professora de Letras da USP Maria Augusta da Costa Vieira, especialista em Cervantes, ele é visto por Quixote como um "encantador, que transforma o mundo segundo os seus interesses". Hublet garante que seu gesto não foi premeditado. E reclamou que alguns jornais o denominaram como escritor entre aspas. "Sou um escritor sem aspas, pelo amor de Deus", disse. Hublet fez questão de posar para fotos mostrando a cabeça de sua bengala, que, segundo ele, trata-se da cabeça de uma "águia carcará": "Eu não usei essa parte de metal para atingi-lo. Foi a parte de madeira". Hublet concedeu a entrevista ao lado da mulher, Márcia. No fim da conversa, ela distribuiu pastas com cópias de documentos e reportagens sobre os três livros publicados pelo marido. Num currículo, também incluído nas pastas, o aposentado relata ter atuado no filme "O Paraíso das Solteironas", do comediante Mazzaropi, e escrito o roteiro do longa "Tara Diabólica". O deputado José Dirceu prestou queixa-crime contra Hublet. O aposentado deve ser indiciado com base nos artigos 140 e 141, do código penal, por injúria real, com agravante de ter sido num local público.