Título: O dilema do veto
Autor: Jerônimo, Josie; Foreque, Flávia
Fonte: Correio Braziliense, 06/05/2010, Política, p. 2

Lula afirma que a decisão de rejeitar ou não o reajuste de 7,7% aos aposentados levará em conta a análise econômica. Serra e Dilma apoiam

A derrota sofrida na Câmara deixou o governo cauteloso em relação à ameaça de veto do reajuste de 7,7% para aposentados que ganham mais de um salário mínimo. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva já esperava a vitória do índice maior, mas a discussão e a aprovação de última hora do fim do fator previdenciário acenderam a luz vermelha da equipe política do governo. Enquanto a área econômica aponta o veto dos dois temas como imprescindível para o equilíbrio das contas públicas, os articuladores do Congresso sinalizam que o desgaste político pode custar bem mais que os R$ 600 milhões de impacto, caso o presidente sancione o reajuste de 7,7%, que será votado pelo Senado na próxima semana. Se a proposta passar no Senado e Lula decidir vetar, uma nova medida provisória com o índice defendido pelo governo terá que ser editada novamente. O presidente não pode enviar ao Congresso outra MP com o mesmo valor e, se quiser manter reajuste acima da inflação, pode sugerir aumento de 6,13% ¿ 0,01% a menos do que o inicial ¿ , segundo parlamentares governistas, ou manter 3,45% que corrigem apenas as perdas inflacionárias de 2009. Lula não antecipou a decisão de vetar ou não o reajuste estabelecido pela Câmara, mas também não condenou os parlamentares da base por rejeitarem o índice de 7% apresentado pelo governo. ¿É um percentual que a Câmara entendeu que era o correto. E se a Câmara entendeu, eu não posso considerar loucura. É uma questão de visão econômica que nós vamos consertar, ou manter do jeito que está, depois de aprovada no Senado¿, afirmou o presidente, após solenidade na manhã de ontem, no Itamaraty. Os aliados do presidente informam que o veto do reajuste se tornou um dilema para Lula. Se não vetar, aparenta fraqueza diante do Congresso. Caso decida barrar a decisão da Câmara e do Senado, assume sozinho o desgaste por negar aumento aos aposentados no ano que tenta emplacar Dilma Rousseff como sua sucessora. A saída avaliada pelo governo é aceitar o reajuste de 7,7% e rejeitar o fim do fator previdenciário, apoiando-se em parte da oposição que também considera prematura a derrubada da regra. ¿A mim, só cabe esperar a decisão final do Senado para que eu possa analisar os impactos disso na economia brasileira e na Previdência Social¿, afirma o presidente.

No Senado Os senadores prometem colocar o assunto em votação na próxima semana. Enquanto não sai do Congresso, Lula põe na balança o peso político e fiscal do veto às medidas. Para o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, não há dúvidas em relação à inviabilidade financeira das propostas. ¿Eu vou levar para o presidente Lula a opinião de que nós deveríamos vetar isso¿, disse. O ministro afirmou que o impacto fiscal apenas do reajuste é estimado em R$ 30 bilhões nos próximos cinco anos. ¿Com os 6,14%, nós iríamos acrescentar, nos próximos cinco anos, mais R$ 19 bilhões. Com esse índice, significa mais R$ 30 bilhões¿, detalhou Paulo Bernardo. O Planalto passou o dia de ontem fazendo contas. De acordo com o ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, somente a queda do fator previdenciário terá um impacto de R$ 4 bilhões ao ano. O governo vai usar toda a articulação para convencer os senadores a alterarem o texto aprovado na Câmara, votando o índice de 7%. Padilha tentará reunir a base para o Executivo não ficar refém das ambições eleitorais dos parlamentares, mas o governo terá que trazer de volta o PMDB, que promete repetir a votação do reajuste maior e do fim do fator previdenciário no Senado. No clima de ressaca moral que reinava ontem no Congresso, o nome do líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP), era lembrado em todas as rodas. Até mesmo a oposição demonstrava compreensão da difícil situação enfrentada pelo petista. Parlamentares da base e da oposição não creditam a derrota na conta do líder do governo e são unânimes ao dizer que a função é ¿ingrata¿ em ano eleitoral. Deputados da base reclamam, no entanto, da forma que Lula trata o Congresso. Os governistas afirmam que o presidente não dá o respaldo necessário ao líder e que Lula não referenda os acordos costurados por Vaccarezza na Câmara e usa a ¿tática da confusão¿ para lidar com o Legislativo. Sem o apoio expresso de Lula, a figura do petista fica enfraquecida. Apesar de não criticarem a atuação do petista, deputados afirmam que na briga interna de egos no partido a atuação do ex-líder Henrique Fontana tem sido lembrada em comparação à liderança de Vaccarezza.