Título: Fornecedores e clientes ganham prazos maiores
Autor: Janes Rocha
Fonte: Valor Econômico, 01/12/2005, Finanças, p. C1

A Morganite Brasil, uma indústria de origem inglesa, fabricante de cerâmica térmica e carbono ampliou o prazo de financiamento das vendas de 28 para até 49 dias nos últimos dois anos em seus créditos mercantis, conta Antonio Sergio de Almeida, diretor financeiro da companhia e vice-presidente do Ibef. Com faturamento anual na casa de R$ 50 milhões, três fábricas e cerca de 250 empregados, a Morganite tem como clientes perto de 10 mil indústrias de transformação de diversos setores, da fundição de metais não ferrosos a fabricantes de equipamentos (fornos) com isolamento de altas temperaturas. "Ampliamos o prazo por causa da concorrência. Se eu não aumentar, meu concorrente aumenta", afirma Almeida. Como o custo do dinheiro é proibitivo no país, todas as vantagens concedidas aos clientes são cobradas dos fornecedores - "todo o prazo a mais que eu dou aos clientes, peço aos fornecedores". Mas os fornecedores também ganham a possibilidade de antecipar recebíveis com desconto com a Morganite que, segundo Almeida, tem uma situação de caixa tranqüila, com boa liquidez e acesso a recursos externos, mais baratos, em caso de necessidade. "Tem empresa que não tem acesso ao banco e vem trabalhando com factorings, então é sempre melhor para ela resolver o problema de caixa com os clientes", afirma Almeida. "Tentamos dar o melhor desconto possível entre o custo da factoring e o bancário". A gigante Motorola, uma das maiores do mundo na fabricação de equipamentos de comunicação móvel (celulares, banda larga, sistemas integrados e redes sem fio), detectou a necessidade de ampliar os prazos de pagamento para seus clientes, que são as grandes operadoras de telefonia móvel. Ao mesmo tempo, tinha que encontrar uma forma para que estes créditos não pesassem no balanço, explica Alexandre Carvalhal, diretor de Finanças de Produtos Móveis da companhia. A solução encontrada foi a securitização de recebíveis, através do Fundo de Investimentos em Direitos Creditórios (FIDC, ou fundo de recebíveis). Em outubro, a Motorola lançou seu primeiro FIDC, no valor de R$ 400 milhões em cotas, com rentabilidade atrelada à variação do CDI. Com a venda dos recebíveis da venda de produtos para o fundo, a Motorola conseguiu aumentar de 60 para 120 dias o prazo de crédito de aquisição de equipamentos para as operadoras que geralmente bancam a maior parte do prazo de financiamento do varejo, ajudou os clientes a terem fôlego para absorver os avanços tecnológicos incorporados pela fábrica. A CTBC, operadora de telefonia fixa e móvel, provedora de internet, TV por assinatura e data center, controlada pelo grupo Algar, assistiu a uma melhora substancial nas condições de financiamento de seus projetos, como relata a coordenadora de Gestão Financeira, Edilane Gonçalves. "Os pagamentos de longo prazo em financiamentos diretos com fornecedores aumentaram de 36 a 48 meses no máximo, até dois anos atrás, para 48 meses no mínimo, chegando a 6,5 anos em algumas operações", conta Edilane. Um dos maiores parceiros da CTBC é o grupo HP, que fornece equipamentos e anunciou uma parceria com a operadora no projeto de quadruplicar as vendas e a abrangência de atendimento, de 330 localidades, para cerca de mil em todo o país, com um potencial de clientes avaliado em cerca de 62,5 milhões de pessoas, nos próximos quatro anos. (JR)