Título: Decisões ficam para o ano que vem
Autor: Raquel Landim
Fonte: Valor Econômico, 05/12/2005, Brasil, p. A2

A ultima tentativa de alinhavar um acordo entre Brasil, Estados Unidos, União Européia, Índia, Japão e Austrália apenas confirmou a enorme divergência entre exportadores e importadores agrícolas, a uma semana da conferência de Hong Kong que é considerada uma etapa decisiva para o futuro das negociações da Rodada Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC). Até a data para eliminar subsídios à exportação de produtos agrícolas, que quase todo mundo concorda que deve ser por volta de 2010, ficou para ser decidida no ano que vem. Em Hong Kong, deve ser aprovado basicamente um pacote para as nações mais pobres, para exportarem livres de tarifas. No mais, haverá acertos "nas margens", nada de concreto e nem nas questões centrais (agricultura, produtos industriais e serviços), na avaliação do ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim. Negociadores dizem que a reunião ministerial de sábado e domingo entre os principais países, em Genebra, fez avanços. Só que ninguém quer colocar isso no papel, por razões táticas. Na questão de produtos sensíveis, que continuarão tendo altas barreiras, está claro que haverá mudanças. Mas os europeus querem saber primeiro qual será a fórmula geral de cortes tarifários. Já o Brasil e outros exportadores querem definir antes como serão tratados os produtos nessa categoria. O comissário europeu de comércio, Peter Mandelson, enviou carta a Amorim cobrando concessões em produtos industriais e serviços. Afinal, o Brasil acena, mas não formaliza nada. Brasília reclama que Mandelson não deu garantia de que, uma vez obtendo a flexibilidade pedidas, vá melhorar sua oferta agrícola. Amorim disse a Mandelson que o Brasil tem condições de oferecer mais em várias áreas, em troca de mais abertura na área agrícola, mas espera que os europeus se movam. Nesse cenário, o diretor-geral da OMC, Pascal Lamy, reclamou que tanto a UE quanto o Brasil querem ver primeiro as cartas do outro e que desse jeito não dá para avançar a Rodada Doha. O Itamaraty espera para hoje uma resposta do primeiro-ministro britânico, Tony Blair, à sugestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de uma reunião de presidentes e chefes de Estado para dar impulso político à Rodada Doha. Mas Brasília tem um "plano B". Se não for agora, que a reunião de cúpula seja no primeiro trimestre do ano que vem, antes de nova reunião ministerial dos 149 países-membros da OMC. Em outra discussão complicada que corre paralelamente às negociações da Rodada Doha, os países-membros da OMC tentam chegar nesta terça-feira a um entendimento sobre mudanças nas regras da OMC na área de patentes e propriedade intelectual, para permitir exportação de medicamentos genéricos a países sem capacidade de produção.