Título: Banco Central reage a críticas de Mantega à política monetária
Autor: Cristiano Romero e Raymundo Costa
Fonte: Valor Econômico, 05/12/2005, Política, p. A7

Aumentou a temperatura das divergências dentro do governo. Em entrevista à "Folha de S.Paulo" publicada ontem, o presidente do BNDES, Guido Mantega, acusou o BC e seu diretor de Política Econômica, Afonso Bevilaqua, de serem os responsáveis pela queda de 1,2% do PIB no terceiro trimestre. Em nota oficial, a assessoria do BC reagiu aos ataques. "O Banco Central lamenta que integrantes do governo utilizem a imprensa para criticar políticas do próprio governo", diz a nota. Na entrevista, Mantega procurou resguardar o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, disse que a política econômica está no rumo correto, mas bateu duro na atuação do BC. Na opinião dele, a desaceleração da economia no terceiro trimestre foi fruto de "exageros" cometidos pela política monetária. "Essa política monetária excessivamente severa ou restritiva, que foi uma decisão exclusiva do Copom (Comitê de Política Monetária do BC), foi a principal responsável por essa desnecessária desaceleração", queixou-se Mantega. "O Banco Central errou na mão." Mantega contestou tese defendida pela diretoria do BC e por Palocci, segundo a qual, o PIB contraiu entre julho e setembro por causa da crise política. "O que houve mesmo foi excesso de zelo do BC, principalmente de alguns diretores, particularmente o Bevilaqua", afirmou o dirigente do BNDES, que tachou de "modelinho" o sistema utilizado pelo BC para calibrar os juros. Na nota, o BC reagiu, lembrando que as decisões do Copom são tomadas de forma colegiada pelos diretores e o presidente da instituição. Os ataques de Mantega causaram mal-estar na equipe econômica. Não foi a primeira vez que ele criticou o BC. Já tinha feito isso antes em relação à definição da TJLP, a taxa de juros cobrada nos empréstimos do BNDES. Mantega as considera excessivamente elevadas. Além disso, ele polemizou recentemente com o secretário do Tesouro Nacional, Joaquim Levy, que atribui, aos empréstimos subsidiados do BNDES, uma das razões para os altos "spreads bancários" existentes no país. As críticas tiveram peso ainda maior porque, em Brasília, todos sabem que Mantega tem relação direta com o presidente Lula, com quem se reúne pelo menos uma vez por semana. Na avaliação de integrantes do governo ouvidos pelo Valor, os ataques do presidente do BNDES foram avalizados pelo presidente e refletem seu descontentamento com Palocci e sua política econômica.