Título: "Lula está acabado como líder, mas pode se reeleger"
Autor: César Felício
Fonte: Valor Econômico, 05/12/2005, Política, p. A8
Um dos pré-candidatos do PDT à Presidência, o senador Cristovam Buarque (DF) acha remota a possibilidade de vitória. Acredita, entretanto, que pode obter uma votação substancial o suficiente para que as forças que o apoiarem estabeleçam um pacto com o futuro governo. Deu a seguinte entrevista ao Valor: Valor: O senhor não contesta a essência do modelo econômico do governo federal. Que discurso alternativo o senhor proporia como candidato a presidente? Cristovam Buarque: Vou expor que é possível mudar o Brasil a partir do Orçamento, e não das bases da política econômica. Mas o tamanho do superávit primário é uma parte do Orçamento, e não do fundamento da economia. Com os recursos orçamentários, vou propor um choque social. A estabilidade financeira não é um postuladode direita e não conter a inflação é tão grave quanto não conter a corrupção. Valor: Em um contexto polarizado entre PSDB e PT, há espaço para uma terceira via? Cristovam: Uma candidatura do PDT à Presidência tem pouquíssima chance de chegar ao segundo turno, isto é óbvio. Mas um partido não tem que ganhar uma eleição antes do tempo e a eleição de 2006 precisa de um discurso alternativo e realista. Valor: Como o senhor vê o cenário da disputa em 2006? Cristovam: O Lula como líder está acabado, mas pode ser reeleito. Hoje existe um empate entre ele e o PSDB. O seu trunfo para tentar controlar a agenda da eleição é o Bolsa Família. O PSDB fará o discurso do pré-Lula, da nostalgia, o que é muito precário. Eu não subestimo a força de Lula em nenhuma hipótese, mas ele desapareceu como figura transformadora. Caso se reeleja, terá um PT minoritário e será prisioneiro da direita. Para os conservadores, será um excelente negócio. Vai fazer o que a direita quer e será um 'Valium' para inibir os movimentos sociais. Se o PSDB vencer, os movimentos ressuscitam e poderá haver rebeliões. (C.F.)