Título: "A ética terá peso, mas é a economia que nos pautará"
Autor: César Felício
Fonte: Valor Econômico, 05/12/2005, Política, p. A8
Presidente nacional do PPS, o deputado federal Roberto Freire (PE) já foi candidato à Presidência pelo PCB em 1989 e a vice-presidente na chapa de Ciro Gomes em 1998. Em 2006, se o PPS tiver candidato próprio, o nome é o dele. A seguir, a entrevista ao Valor: Valor: Que proposta o senhor teria para oferecer durante a campanha eleitoral para credenciar-se como terceira via na eleição presidencial? Roberto Freire: O nosso discurso é essencialmente o que levamos para as campanhas de 1989, 1998 e 2002 com adesão crescente do eleitorado. Só em 1994 não tivemos candidato e apoiamos o Lula. É a volta do papel planejador do Estado, como autor de políticas econômicas de desenvolvimento e não apenas políticas sociais, sem que isso signifique fechar a economia. Valor: O senhor vê perspectivas de uma via alternativa ao PT e PSDB ganhar espaço na sucessão? Freire: Não acho que diante do desastre do PT o povo vá querer fazer um mero 'recall'. O ciclo de política neoliberal finalmente se esgotou e a rediscussão do papel do Estado terá que ser feita por alguém. O PSDB é uma oposição meia-bomba, que joga para manter o ministro Antonio Palocci no governo. A fuga desta disjuntiva quase aconteceu em 2002. Se não fossem erros de campanha que todos conhecem, o ministro Ciro Gomes teria ido ao segundo turno contra Lula e ganho a eleição. Valor: Com que cenário o senhor trabalha para a sucessão presidencial no próximo ano? Freire: Ainda não dá para saber como a tragédia desta crise terminará. A hipótese de Lula não ser candidato existe e a sociedade pode reagir ao retorno do tucanato, que é uma face da mesma moeda. Mas as leis eleitorais limitam a cidadania e favorecem a polarização entre eles. O PT escolheu o caminho do assistencialismo. A questão ética terá peso na eleição. Sem dúvida, vão atacar o governo com Land Rover e com dólar na cueca. Mas o que vamos tentar discutir é o desempenho medíocre do modelo econômico com o qual o PT e o PSDB se associaram. (C.F.)