Título: Sobrevivência do PDT e do PPS depende do fim da verticalização
Autor: César Felício
Fonte: Valor Econômico, 05/12/2005, Política, p. A8

A permanência ou não da norma que exige a verticalização das coligações será decisiva para para PDT e PPS tentarem, pela segunda vez, quebrar a polarização entre o PT e o PSDB na próxima sucessão presidencial. O fim da verticalização está novamente em pauta de votação amanhã na Câmara depois de já ter sido aprovada no Senado. Ambos os partidos patrocinaram em 2002 a candidatura de Ciro Gomes e apoiaram o presidente Luiz Inácio Lula da Silva no início de seu governo. Romperam com o Planalto em 2004. Ambos têm o mesmo perfil, de esquerda moderada, com dificuldade de aliança tanto com petistas quanto com tucanos. Caso a emenda constitucional que derruba a verticalização seja aprovada pela Câmara e não seja impugnada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), os dois partidos devem se reunir em uma coligação e lançar um candidato. Se isso não ocorrer, o PDT provavelmente se ausentará da eleição presidencial. O PPS , com menos divisões internas, deve lançar candidato em qualquer circunstância. O desafio central para ambas as siglas não é ganhar a eleição, é conseguir mais que 5% dos votos na eleição proporcional e escaparem da cláusula de barreira, válida para o ano que vem. Em 2002, o PDT conseguiu 5,1% dos votos e o PPS, apenas 3,1%. A candidatura própria impulsiona a votação da chapa proporcional e a permanência da verticalização atrapalha a formação de chapas competitivas aos governos estaduais e ao Senado. A primeira reunião do PDT para discutir o assunto será na próxima sexta-feira, com a presença dos três pré-candidatos do partido à presidência: o senador Cristovam Buarque (DF), ex-governador de Estado e ex-ministro da Educação de Lula, e o senador Jefferson Peres (AM) e o governador de Alagoas, Ronaldo Lessa. O presidente da sigla, Carlos Lupi, tentará convencer o partido a lançar candidato mesmo se a verticalização for mantida. "Só temos dois governos estaduais (AL e AP) e alianças regionais com o PMDB no Rio Grande do Sul e com o PSDB em Minas. No resto do País, somos oposição no plano federal e regional. Não há porque não ter candidato", afirma otimista o dirigente. Nem os presidenciáveis da sigla, contudo, estão tão otimistas. "A verticalização é um complicador", afirmou Cristovam. "A verticalização acaba com a chance de uma aliança com o PPS e nos leva a repensar a candidatura própria", disse Lessa. Na montagem de chapas fortes para governador, os problemas se multiplicam. Em Alagoas, o governador Ronaldo Lessa (PDT) não pode se reeleger, mas mantém um compromisso de união regional com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB), que ficará inviabilizado se ambas as siglas tiverem candidaturas presidenciais. "E vamos convir que é muito mais fácil para o PMDB concorrer sozinho à presidência do que nós", concluiu Lessa. No Amapá, o governador Waldez de Góes precisa do apoio do ex-presidente e senador José Sarney, também do PMDB. Na Bahia, o prefeito de Salvador, João Henrique (PDT), está aliado com o PSDB. Em São Paulo, o PDT não está no secretariado estadual, mas participa do governo do prefeito paulistano e pré-candidato da sigla à presidência, José Serra. No Congresso, a bancada de vinte deputados pedetistas freqüentemente se divide. Recentemente, parte dos pedetistas retirou assinaturas do pedido de prorrogação da CPI dos Correios, por exemplo. Já o PPS ganhou uniformidade depois do desembarque do ministro da Integração Nacional, Ciro Gomes, e de todo seu grupo político, no PSB, além da migração do governador do Amazonas, Eduardo Braga, para o PMDB. Depois da saída de Ciro, a grande preocupação de Freire foi segurar o governador do Mato Grosso, Blairo Maggi, na sigla. Conseguiu convencer o mato-grossense que a verticalização não o afeta: os aliados regionais do governador são o PP, PL e PTB, partidos que tendem a não apoiar nenhum candidato e poderiam se coligar com Maggi sem problemas. E na disputa, Freire é o único possível pré-candidato. "Com a verticalização e sem a aliança com o PDT, o PPS terá candidato próprio de qualquer maneira", afirmou Freire, procurando ver o lado bom da situação adversa. "A verticalização restringe o número de candidatos e aumenta o tempo mínimo de televisão para cada um", disse. Caso a verticalização caia , a aliança dos dois partidos é provável e a cabeça de chapa, uma incógnita. O PDT aposta em sua maior estrutura para emplacar o nome. Freire , entretanto, foi o único que apareceu com alguma densidade em pesquisas de opinião, ainda que mínima. Uma sondagem do Ibope de outubro o colocou entre 2% e 4% de intenções de voto, conforme o candidato tucano. Entre o eleitorado de maior renda e escolaridade, o deputado do PPS fica em quarto lugar, acima do ex-governador do Rio de Janeiro, Anthony Garotinho (PMDB). Incluindo na mesma sondagem , Cristovam não sai de 1%.