Título: Para FMI, região tem uma chance de ouro em 2006
Autor: Tatiana Bautzer
Fonte: Valor Econômico, 05/12/2005, Internacional, p. A9

América Latina Novos eleitos têm oportunidade para aprofundar reformas

A América Latina tem em 2006 a oportunidade histórica de quebrar os ciclos de crescimento e estagnação que afligem a região há décadas, afirmam os dois principais executivos do Fundo Monetário Internacional (FMI) para a região e o ex-presidente do Banco Central brasileiro, Armínio Fraga. Os economistas escreveram artigos sobre as perspectivas econômicas para a região na revista Finance and Development, do FMI, de dezembro. O diretor do Departamento do Hemisfério Ocidental, Anoop Singh, e o vice-diretor, Charles Collyns, argumentam que os países deveriam aproveitar a recuperação da crise do início da década para elevar definitivamente seu potencial de crescimento. O ex-presidente do Banco Central, Armínio Fraga, espera que os governos eleitos no ano que vem usem o capital político obtido logo após as eleições para avançar nas reformas. Fraga diz que as taxas de crescimento decepcionantes nos últimos anos resultam não da adoção dos princípios do consenso de Washington, como crêem os críticos das políticas econômicas ortodoxas, mas da falta ou aplicação imperfeita das reformas. "A maioria dos países da região falhou na implementação dos principais aspectos do consenso e não conseguiu consolidar uma estabilidade macroeconômica crível." Os países que mais avançaram na adoção do consenso, como Chile e posteriormente México, tiveram os melhores resultados. Depois de crescer uma média de 5,6% em 2004 e 4% este ano, a América Latina deve elevar o PIB em 3,75% no ano que vem. Fraga afirma que os números são aparentemente satisfatórios, mas lembra que a média de crescimento latino-americana desde 1997 foi de apenas 2,8%, abaixo da média mundial de 3,9% e de 5,3% dos emergentes em geral. Para Singh e Collyns, do FMI, uma das soluções para aproximar-se das taxas de crescimento asiáticas seria continuar reduzindo o endividamento público. A média de endividamento sobre PIB vem caindo (de 74% em 2003 para cerca de 51% este ano), mas o Fundo acredita que é necessário reduzir ainda mais estes índices. Manter a inflação baixa e facilitar o acesso ao crédito ajudariam no crescimento, assim como melhorar o clima para investimento privado (menos burocracia e corrupção e maior segurança jurídica). Também é necessária maior flexibilidade na legislação trabalhista. Fraga diz que a temporada eleitoral de 2006 coloca a América Latina numa "encruzilhada" entre o populismo ou o caminho de aprofundamento das reformas tomado pelo Chile. Para ele, Brasil e México correm o risco de sucumbir à tentação populista "na versão mais leve", à maneira argentina, ou "ao tipo mais extremo, venezuelano", que coloca a democracia em risco com o "sonho bolivariano" de união da América Latina. Para Fraga, a melhor estratégia para os eleitos é tentar aprovar as reformas logo, usando o capital político do início dos mandatos.