Título: Gabrielli endossa crítica à política monetária
Autor: Cristiano Romero
Fonte: Valor Econômico, 06/12/2005, Política, p. A7

O presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, em uma atitude rara em dirigentes da estatal, fez críticas explícitas à política monetária do Banco Central (BC), alinhando-se ao presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Guido Mantega. Para Gabrielli, "o Brasil atualmente está focado somente na meta inflacionária", deixando de lado o crescimento econômico e a geração de empregos. O baiano Gabrielli está na diretoria da Petrobras desde o início do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, primeiro como diretor financeiro e depois como presidente. Ele teve indicação direta do PT para integrar o comando da estatal. Suas críticas à política monetária foram feitas ontem durante evento promovido pelo pelo Instituto Brasileiro de Executivos Financeiros (Ibef), no Jockey Club do Rio de Janeiro. Em discurso cheio de avanços e recuos, Gabrielli disse que "o mundo vai além do crescimento da economia, além da estabilidade financeira, além das metas inflacionárias". Mais tarde, instigado por jornalistas, disse que o discurso foi "uma crítica indireta" à política de metas de inflação. "Eu fiz a crítica indiretamente. Acho que a meta de inflação é uma política que busca segurar a variação de preços, segurar a inflação. Mas não é a única variável econômica que é relevante". Gabrielli ponderou que "os bancos centrais no mundo trabalham com muitas variáveis" e acrescentou que "o Brasil atualmente está focado somente na meta inflacionária". Para o presidente da Petrobras, cujas críticas evidenciam a existência de uma ofensiva de petistas poderosos contra a direção do BC, um bom exemplo de política correta é o Federal Reserve (FED), o BC dos Estados Unidos. "O FED americano busca a estabilidade de preços, mas não despreza o crescimento econômico e a geração de empregos", afirmou. Ontem, ao lado de Gabrielli, Mantega manteve a pressão, embora com um discurso mais cuidadoso: "O importante hoje é saber que existem investimentos na economia, que a economia está sólida, que nunca foi feita uma política econômica tão eficiente quanto hoje, política externa, política fiscal... É claro que alguns ajustes têm que ser feitos, de modo a que a economia possa ter um crescimento sustentável de longo prazo e em volume compatível com a nossa sociedade".