Título: Lula avaliza Mantega e Palocci sustenta permanência de Bevilaqua
Autor: Cristiano Romero
Fonte: Valor Econômico, 06/12/2005, Política, p. A7

As críticas de integrantes do próprio governo à condução da política monetária não abalaram a permanência no governo do economista Afonso Bevilaqua, diretor de Política Econômica do Banco Central (BC). Principal formulador da política de juros do governo, Bevilaqua foi apontado pelo presidente do BNDES, Guido Mantega, como o responsável pelos "exageros" dessa política, que, segundo ele, teria provocado a retração de 1,2% do PIB no terceiro trimestre. As críticas foram feitas quando o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, estava em Londres participando da reunião dos ministros das Finanças do G-7, o grupo dos países ricos. Segundo apurou o Valor, Palocci ficou irritado quando soube dos ataques de Mantega a Bevilaqua e à política monetária. Foi Palocci quem avalizou, junto a Lula, a nomeação de Guido Mantega para substituir Carlos Lessa na presidência do BNDES, em novembro do ano passado. O ministro aproveitou o episódio para reiterar apoio à sua equipe. No domingo, o Banco Central reagiu rapidamente, e de forma "curta e grossa", nas palavras de um assessor, às críticas de Mantega publicadas na "Folha de S.Paulo". Em nota oficial, lamentou que um integrante do governo use a imprensa para criticar o próprio governo. Trata-se de um novo padrão: toda vez que alguém no governo bater na política econômica, haverá resposta. Citado nominalmente por Mantega, Bevilaqua não respondeu porque a nota do BC lembrou que as decisões do Comitê de Política Monetária (Copom) são colegiadas. "Ele está tranqüilo (no cargo). A nota oficial resolveu o problema", comentou um assessor. Na avaliação de integrantes da equipe econômica, as críticas de Mantega e de outros membros do governo à gestão da economia têm recebido o aval do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. Ontem, foi a vez de o presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, bater na política monetária (ver matéria nesta página), em discurso para cerca de 600 executivos, no Rio. As críticas à condução da economia se intensificaram desde que a chefe da Casa Civil decidiu tornar público, há um mês, seu descontentamento com a política de juros e o programa fiscal de longo prazo em gestação na área econômica. Mais recentemente, o tom das críticas aumentou por causa da retração do PIB entre julho e setembro. Os ataques têm recebido o aval do Palácio do Planalto porque Lula, que bancou Palocci desde o início do governo, anda insatisfeito com os resultados da política econômica. Mesmo irritado com as críticas, Palocci não aceita mudar nem flexibilizar os principais aspectos dessa política. Se for obrigado a fazer isso, asseguram seus amigos mais próximos, deixará o governo. "Enquanto não houver a tal 'inflexão', está tudo bem. Ele fica", sustenta uma fonte do governo. O ministro também já teria deixado claro que não aceita a imposição de mudanças em sua equipe. Na opinião de economistas do governo, o Palácio do Planalto e outros setores da administração estão namorando o perigo. "Essa onda (de críticas), já se sabe, leva à queda do ministro da Fazenda e da equipe econômica", observa um assessor experiente. Enquanto isso não acontece, o resultado é mais ortodoxia e menos crescimento econômico. "O Banco Central atua em cima de expectativas. Ao expor publicamente que o BC está fragilizado, o banco é obrigado a reafirmar sua autoridade. Isso enrijece as políticas", adverte um assessor do governo.