Título: Para Alencar, PT é 'cliente' da Coteminas
Autor: César Felício e Cristiane Agostine
Fonte: Valor Econômico, 06/12/2005, Política, p. A8

O vice-presidente da República, José Alencar, simplificou ontem a relação do PT com a Coteminas, empresa que fundou na década de 70, é presidida atualmente por seu filho Josué Gomes da Silva e recebeu em maio depósito de R$ 1 milhão não contabilizado pelo partido. "É uma pena que isso esteja acontecendo, porque o PT é um cliente. A gente não pode, de forma alguma, deixar de considerar os clientes, mas diante das notícias veiculadas, fica parecendo que a companhia é responsável por problemas de qualquer natureza. Não temos nada com isso", afirmou em Curitiba. Logo que chegou Alencar brincou com os jornalistas. "Não vai ter pergunta, né", disse, depois de criticar o câmbio e as taxas de juros do país. Em seguida avisou que a Coteminas publicaria hoje uma nota explicando tudo o que aconteceu. Diversas vezes ele falou da empresa em primeira pessoa, mas se corrigia e passava a referir-se a ela em terceira pessoa, por não fazer mais parte da administração. "A Coteminas não tem um alfinete por fora. Talvez seja esse o defeito, porque se tivesse não estaria passando por isso", disse No meio da entrevista, Alencar recebeu a nota da Coteminas. Nela a empresa conta que vendeu 2,75 milhões de camisetas para o PT, para quem emitiu 50 notas fiscais entre setembro e outubro de 2004, no valor de R$ 11 milhões. O prazo para quitação venceria em 16 de janeiro de 2005, mas o primeiro pagamento só teria sido feito em 17 de maio, no valor de R$ 1 milhão. A portadora do pagamento é identificada como Marice Correia de Lima. O valor atual da dívida seria de R$ 12,2 milhões, e a Coteminas informa que aguarda pagamento integral da dívida. Alencar disse ter recebido telefonema do presidente do PT, Ricardo Berzoini, lamentando a situação e prometendo uma nota do partido para explicar tudo. Ele disse que não há lei que impeça uma empresa de vender mercadoria e receber por isso em moeda corrente. "Não somos vítimas do caixa 2 do PT. A companhia recebeu e registrou", disse. Antes de encerrar, Alencar trocou o termo mensalão por sacolão e avisou que não será candidato em 2006. "Estou voltando para casa", afirmou. Sobre a mudança para o PRB, ele justificou que tem "mania de começar da estaca zero", e que não poderia disputar uma eleição sem tempo para falar na TV. O vice-garantiu que pretende concluir o mandato e que apoiará Lula caso ele decida ser candidato à reeleição. Em Brasília, o ministro da Coordenação Política, Jaques Wagner, preferiu adotar a cautela diante das denúncias. Para Wagner, é preciso esperar mais elementos para se analisar a denúncia. "Temos que apurar, mas é preciso saber se há um conjunto de provas. Prefiro esperar mais um pouco", ponderou. O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Roberto Busato, também reconheceu que o caso "foi trazido a público nos últimos dias e deve sofrer um processo de apuração mais rigoroso". Mas ele pediu a imposição de penas para "todos aqueles que comprovadamente cometeram alguma irregularidade e fraude eleitoral". Também cauteloso diante das novas denúncias, o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Carlos Velloso, lembrou que enviou ao Congresso uma proposta para coibir o caixa 2. Velloso quer subir as penas para este crime de cinco para até oito anos de prisão. O presidente do TSE também quer elevar o valor máximo da multa para crimes eleitorais graves de R$ 270 mil para R$ 6,480 milhões. "Seremos capazes de, senão afastar por completo, pelo menos reduzir o caixa dois", disse.