Título: Opção de Cesar Maia divide PFL e PSDB
Autor: César Felício e Cristiane Agostine
Fonte: Valor Econômico, 06/12/2005, Política, p. A8

A decisão do prefeito do Rio de Janeiro, Cesar Maia, de retirar a sua pré-candidatura à Presidência caso o prefeito paulistano José Serra seja escolhido o candidato do PSDB dividiu tucanos e pefelistas. No PSDB, onde a candidatura de Serra encontra resistências, o prefeito foi acusado de armar uma estratégia para que o PFL escolha o nome tucano para a Presidência. Entre os pefelistas, a ala baiana, de maior expressão eleitoral do partido, queixou-se de não ter sido consultada pelo prefeito antes de fazer o movimento. "Caberá ao PSDB escolher seu candidato que, acredito, terá o apoio e entusiasmo do prefeito Cesar Maia, qualquer que seja a decisão", afirmou o governador mineiro Aécio Neves, outro presidenciável tucano, por meio de sua assessoria de imprensa. Principal vítima da articulação do prefeito carioca, o governador paulista Geraldo Alckmin não comentou as declarações, mas frisou: "Serra tem dito que não é candidato". Distante da cúpula pefelista, a seção baiana do partido reagiu com irritação. O principal dirigente tucano no Estado, o deputado Jutahy Junior, é muito ligado a Serra e articula uma grande frente na Bahia contra o PFL. "O Cesar Maia não recebeu delegação para negociar apoio do partido. Se ele não quer ser candidato, tem que devolver a candidatura à Executiva Nacional", disse o senador César Borges (BA), secretário-geral pefelista. "Os acordos nos Estados precisam vir antes do lugar de vice na chapa, senão é melhor o partido desaparecer. Não tem cabimento falar em aliança com os tucanos, principalmente porque eles ainda não decidiram quem será o candidato deles", disse o líder da minoria na Câmara, deputado José Carlos Aleluia (BA). No resto do PFL, o gesto de Cesar Maia foi acertado com antecedência. "É claro que Cesar Maia conversou com o partido antes, o que não quer dizer que conversou absolutamente com todo mundo", afirmou o deputado Luiz Carlos Santos (SP), integrante da Executiva. Vice-governador de Alckmin, o pefelista Cláudio Lembo, disse ter recebido com "perplexidade" a notícia. Ontem mesmo, o prefeito participou ao lado da cúpula da sigla de um evento em Teresina em que afirmou que não poderá manter sua candidatura se Serra for candidato por terem "perfis muito semelhantes". Ao comentar a iniciativa de Cesar Maia, José Serra foi cauteloso. Agradeceu o "comentário positivo", mas disse que não há nenhuma acordo em gestação. "Isso não vai ser definido agora, demanda conversações", disse. Líder do governo tucano na Câmara Municipal de São Paulo, o vereador José Aníbal tentou minimizar o peso do anúncio do pefelista. "Não é bom esse modo de falar e de fazer. Não me consta que ele tenha ditado o que o PFL deve fazer. Mas não creio que vá gerar dificuldades futuras caso o candidato não seja Serra", comentou. O PFL ocupa, em São Paulo, o cargo de vice tanto no governo do Estado como no da capital e o apoio a Serra pode ser estratégico. Alckmin deverá sair candidato em quaisquer circunstâncias, deixando o governo com o vice pefelista, Cláudio Lembo. Se o Serra for candidato, além do governo, o PFL também herda a prefeitura paulistana e por um tempo ainda maior. O vice pefelista, Gilberto Kassab, seria prefeito por quase três anos.