Título: Copel já provisiona perda com Araucária
Autor: Marli Lima
Fonte: Valor Econômico, 12/11/2004, Empresas, p. B7

Energia Usina térmica é o pivô de uma disputa jurídica com a El Paso e que está sendo discutida em Paris

Desde que assumiu a presidência da Copel, no ano passado, Paulo Pimentel não tem como falar da empresa sem mencionar a UEG Araucária, usina a gás que, além da companhia paranaense, tem como sócias a Petrobras e a El Paso. Ele explica que a usina nunca chegou a funcionar, mas desde agosto de 2002 a Copel é cobrada pelo fornecimento de um gás que não usa. O assunto está na Justiça, mas se dependesse de Pimentel, ex-governador do Paraná e empresário do ramo de comunicações, o assunto já estaria resolvido. "Estamos gastando muito dinheiro", diz ele. "Se pudesse, doaria a participação que temos na usina e me desligaria dela. Perderia o investimento feito, mas seria o melhor negócio", garante. Hoje a Copel vai divulgar seu resultado do terceiro trimestre. Segundo analistas, ao contrário do prejuízo de R$ 5,8 milhões de igual período de 2003, desta vez ela deverá apresentar lucro entre R$ 100 milhões e R$ 140 milhões. Mais uma vez, a UEG ganhará espaço no relatório, porque enquanto não resolve as pendências jurídicas, a companhia tem feito provisionamento dos valores previstos no contrato. "Já devemos R$ 304 milhões", disse o executivo. Pimentel adotou o discurso do atual governador, Roberto Requião. Os dois costumam dizer que, se não tivessem revistos contratos assinados antes do processo de privatização da Copel, que acabou não acontecendo, ela teria falido no ano passado. No caso da UEG, foi tomada a decisão de não pagar pelo fornecimento de gás, porque a usina não está em funcionamento. Com isso, a El Passo deu início ao processo no fórum arbitral de Paris, eleito pelas partes. "Nenhuma empresa pública pode estabelecer em contrato fórum de eleição, porque ela é sujeita à justiça de sua sede", diz Pimentel. O departamento jurídico da empresa entrou com ação no Brasil e o processo corre nos dois países, o que exige gastos com advogados especializados e viagens ao exterior. Enquanto acompanha o andamento dos processos, a direção da Copel trabalha para encontrar uma solução conciliatória. "Estamos em contato com a El Paso, a Petrobras e a ministra Dilma Roussef (de Minas e Energia) e esperamos uma solução para o primeiro semestre de 2005", diz Pimentel. A dificuldade, admite ele, será definir os valores envolvidos no negócio. Pimentel diz que a Copel investiu US$ 80 milhões na UEG e deve o equivalente a cerca de US$ 100 milhões por conta de fornecimento de gás que ela teria de comprar usando ou não. A El Paso, que foi procurada e informou que não fala sobre o assunto porque ele está sendo discutido na justiça, teria investido outros US$ 180 milhões. "Com os mesmos valores, temos 20% e eles 60%", reclama o executivo. A Petrobras é dona de 20%. Formado em direito, Pimentel tem 76 anos e, antes de administrar a Copel, admite que seu conhecimento na área de energia resumia-se à construção de três hidrelétricas durante seu governo. "Não sou profundo conhecedor de energia, mas basta apertar um botão do telefone e tem sempre alguém para me ajudar." No dia 26 de outubro, quando a Copel fez 60 anos, ele reservou duas páginas do jornal "O estado do Paraná" para publicar o nome dos 6.759 funcionários da empresa. O jornal é um dos dois que Pimentel possui e que integra a rede de comunicação que inclui quatro canais de televisão. "Essa é uma empresa para ser dirigida por um engenheiro. Foi colocado aqui um advogado com uma característica ainda pior, porque sou também político", diz. "Sabia que o negócio aqui estava caótico. Como não era especializado, usei a astúcia, e o que fiz de melhor foi estimular os funcionários." Amigo de Requião, Pimentel já ameaçou deixar o cargo, mas depois de ver atendido seu pedido de alterações na diretoria, diz que pretende ficar até 2006. Para os próximos dias, ele espera que o governador libere o reajuste de energia de 14,4% autorizado pela Aneel em junho. A intervenção de Requião é vista por analistas como um dos principais problemas da companhia. "A interferência que ele exerce é suportável. O governador acha que a Copel deve contribuir para o crescimento do estado", explica o executivo. Pimentel diz que, como presidente, preferia aumentar as tarifas para ter dinheiro e realizar obras. Além de dizer que precisa de mais dinheiro para investimentos, Pimentel já avisou que a empresa prepara-se para lançar R$ 360 milhões em debêntures para honrar compromissos que vencem em 2005. Apesar disso, ele diz que a empresa vai bem. "A Copel foi condenada como empresa pública à morte por enforcamento. Quando chegou a hora, o cadafalso não abriu", diz.