Título: Projeções indicam aparelhos caros
Autor: Ricardo Balthazar
Fonte: Valor Econômico, 06/12/2005, Especial, p. A12

Ninguém precisará correr até a loja mais próxima para trocar o aparelho de televisão quando o governo escolher o sistema de transmissão digital que será adotado no país. Num assunto dominado por indefinições, esta é uma das poucas certezas estabelecidas. Como ocorreu em outros países, a mudança será feita aos poucos e os consumidores terão bastante tempo para se adaptar. Os sinais analógicos provavelmente continuarão sendo transmitidos por muitos anos, até que se complete a transição para o novo modelo. E o acesso às novas tecnologias não exigirá a troca do televisor no começo. Serão empregados terminais capazes de converter os sinais digitais transmitidos pelas emissoras e exibi-los em televisores comuns. Semelhantes na aparência às caixas usadas pelos assinantes de televisão a cabo ou por satélite, esses novos aparelhos também poderão servir para armazenar jogos, gravar programas, usar a televisão para navegar na internet e explorar os serviços interativos que o sistema digital permite introduzir na programação. Televisores que saiam da fábrica com essas funções embutidas serão muito caros no início e é por isso que o custo desses terminais será uma variável decisiva para o sucesso na adoção da televisão digital. Cálculos preliminares feitos por pesquisadores envolvidos no projeto do governo indicam que Brasília terá um problema difícil para resolver nesse ponto. Até aqui, as projeções indicam que os aparelhos nacionais podem custar mais caro do que similares estrangeiros. Um consórcio de institutos de pesquisa liderados pelo professor Marcelo Knörich Zuffo, da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), propôs ao governo uma família de terminais de acesso que inclui aparelhos simples com poucas funções e outros mais sofisticados. Alguns protótipos desenvolvidos com a ajuda de fabricantes nacionais e estrangeiros têm sido testados. Eles funcionam, mas custam caro. O modelo mais simples, que não permite a exibição de imagens em alta definição nem o aproveitamento de serviços interativos, sairia por US$ 115, de acordo com cálculos da equipe de Zuffo. Aparelhos parecidos podem ser encontrados por metade do preço na Europa e nos Estados Unidos, segundo levantamento feito pelo pesquisador. O modelo mais sofisticado, com alta capacidade de processamento de imagens, gravador digital embutido e entradas para teclado, mouse e cartões magnéticos, sairia por US$ 497. Segundo a equipe de Zuffo, é um preço parecido com o dos terminais estrangeiros da mesma categoria. Esses valores incluem não apenas os custos dos componentes eletrônicos importados e da fabricação do terminal, mas também estimativas para os gastos com royalties, impostos, propaganda e outros itens. Os pesquisadores acreditam que em cinco anos esses preços poderiam ser reduzidos quase à metade, com a adesão de um maior número de consumidores à televisão digital. Além dos ganhos de escala que seriam obtidos com o tempo, inovações introduzidas no desenvolvimento dos aparelhos podem barateá-lo. "Nossas idéias têm chamado a atenção da indústria", diz Zuffo. Fabricantes de aparelhos eletrônicos como a Gradiente e a coreana Samsung, e de componentes, como a STMicroelectronics, têm acompanhado de perto o trabalho de Zuffo. Pelo câmbio atual, o modelo mais simples sugerido pela equipe de Zuffo custaria R$ 253. Nessa faixa de preço, menos de um terço dos consumidores teria interesse em comprar a caixa, segundo pesquisa de opinião feita por encomenda do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações (CPqD) entre maio e junho do ano passado. Como o CPqD observa num relatório apresentado recentemente ao governo, o interesse das pessoas pelo aparelho é maior nos segmentos com maior renda e aumenta diante de equipamentos mais potentes e versáteis. Mas poucos sabem o que esperar da televisão digital e isso explica o relativo desinteresse dos consumidores revelado pela pesquisa. Na Europa e nos Estados Unidos, a introdução da TV digital contou com pesados subsídios do governo, dos fabricantes e das emissoras para persuadir os consumidores a comprar as caixas e aderir ao sistema. Na Itália, por exemplo, o governo destinou no ano passado 110 milhões de euros para isso, subsidiando em até 150 euros o preço de cada aparelho. (RB)