Título: Mercado espera alta de 0,5 ponto na taxa Selic
Autor: Cristiane Perini Lucchesi, Sérgio Lamucci e Janes
Fonte: Valor Econômico, 12/11/2004, Finanças, p. C1

Copom Há risco de a inflação fugir da meta em 2005, dizem analistas

A ampla maioria dos analistas do mercado financeiro aposta que o Copom (Comitê de Política Monetária) vai elevar as taxas de juros básicas Selic em 0,5 ponto percentual, para 17,25% ao ano, em sua próxima reunião, nos dias 16 e 17. Entre 16 especialistas consultados pelo Valor, só duas exceções. O mercado não tem o mesmo consenso, no entanto, no que diz respeito à atitude do Copom em dezembro e em 2005. A alta de 0,5 ponto percentual agora se justifica, no entender da maior parte dos economistas, por causa de uma previsão de inflação em 2005 acima da almejada pelo Banco Central. O raciocínio dos analistas é de que os preços no atacado estão subindo neste momento, por causa da alta dos preços dos combustíveis e da energia elétrica. Em um ambiente de crescimento econômico e demanda forte, a indústria conseguiria repassar a alta de preços ao varejo com vigor. "Quanto mais alto o nível de utilização da capacidade instalada, mais alto o poder de recomposição de margens de lucros da indústria", diz Hugo Penteado, economista-chefe do ABN Asset Management, que acredita em um aumento de 0,5 ponto percentual nos juros agora, mais 0,5 em dezembro e outro 0,5 em janeiro. O mercado de trabalho também mostra recuperação, acrescenta. A inflação de demanda realmente não existe agora, concorda. "Mas, se tivéssemos chegado nesse ponto, seria o total fracasso da política monetária", afirma. Segundo ele, uma alta de juros Selic demora de seis a nove meses para impactar na inflação ao consumidor e o BC tem de agir hoje para evitar a inflação de demanda no futuro.

Como o objetivo do BC é segurar justamente essa inflação de demanda e não conter um choque de oferta, não deverá ter atuação cirúrgica, ou seja, subir os juros com muita força agora para baixar logo depois, diz. "O BC terá de manter as taxas mais altas por um bom tempo." Ele prevê que o movimento de queda se iniciaria em setembro de 2005. Suas estimativas para o final de 2005 são da Selic entre 17% e 16,5% ao ano. As expectativas do mercado ainda são de inflação de 5,9% em 2005, acima da meta de 5,1% perseguida pelo BC, conforme o último boletim "Focus" mostrou, lembra David Beker, economista da Merrill Lynch. Para aproximar mais a expectativa da meta, o BC teria de subir os juros mais 0,5 ponto percentual agora e outro 0,25 ponto em dezembro e depois parar por cerca de dois meses antes de iniciar a baixa, acredita. O economista-chefe do Bradesco, Octavio de Barros, também aposta em alta de 0,5 ponto agora. "A grande dúvida do mercado é depois", afirma. Ele não vê a necessidade de uma alta de 0,5 ponto percentual, necessariamente, em dezembro. "Há o fator retórica -um discurso de um diretor do BC pode alterar mais os juros futuros do que uma mexida da Selic", explica ele. Já o economista da SulAmérica Investimentos, Newton Rosa, acredita em 0,5 ponto percentual de alta agora e mais 0,5 em dezembro, com a Selic terminando o ano a 17,75% e voltando a cair para 17,5% em fevereiro. Fábio Akira, economista do JP Morgan, concorda com os dois aumentos de 0,5 ponto neste ano, mas acredita em uma pausa no primeiro trimestre inteiro para que o movimento de baixa se inicie em abril. O economista-chefe da LCA Consultores, Luis Suzigan, tem uma visão mais crítica. Ele também acredita em aumento de 0,5 ponto percentual na Selic agora. "O teor incisivo do discurso e da postura da autoridade monetária sugere que ela não está disposta a moderar o ajuste da taxa Selic, mesmo diante dos sinais de desaceleração da demanda e de arrefecimento das pressões de custos (dada a recente descompressão dos preços internacionais do petróleo e das commodities metálicas)", afirmou ele, em texto enviado ao Valor por e-mail. Segundo Suzigan, o BC corre o risco de exagerar na dose conservadora de sua política monetária. "Isso poderia desestimular o investimento privado, freando a incipiente expansão da capacidade produtiva doméstica, condição fundamental para que a economia brasileira consiga crescer com regularidade", diz. E mais: a atitude teria um custo fiscal elevado, reduzindo a margem de manobra do governo para destinar recursos a projetos fundamentais de melhoria da infra-estrutura, continua. Para ele, não há sinais de descontrole inflacionário que justifiquem "essa política monetária excessivamente contracionista". Já Ricardo Junqueira, sócio-gestor da Ático Asset Management, considera que o aumento de 0,5 ponto percentual na Selic é pouco -já é esperado pelo mercado e não será suficiente para conter o forte crescimento econômico no ritmo necessário para evitar inflação. Ele defende a alta de 0,75 ponto agora. "A economia brasileira parece uma chaleira velha, que se crescer acima de 4% ao ano produz mais calor do que vapor", diz. Ele vê hoje o crescimento se aproximando de 5%, o que seria demais considerando-se a capacidade instalada e o ritmo ainda baixo de investimentos e sua velocidade de maturação. Mônica Oliveira, economista do Brascan, também vê probabilidade de alta de 0,75 ponto, mas menor do que de aumento de 0,5. "Os núcleos do IPCA incomodam, estão com uma rigidez desconfortável, com a média anualizada em 7% ao ano. É muita coisa!", comenta. Para Jorge Simino, sócio da MS Consult, o fato de as expectativas de inflação para 2005 terem subido desde a reunião anterior do Copom reforça a expectativa de uma elevação mais forte dos juros. Ele aposta em 0,5 ponto percentual. Do encontro realizado em outubro para cá, o IPCA esperado pelo mercado para o ano que vem subiu de 5,81% para 5,9%, acima da meta ajustada que o BC persegue, de 5,1%, diz. Para ele, a economia segue crescendo com força, o que justifica uma freada com os juros. Segundo ele, a estabilidade registrada pela produção industrial em setembro em relação a agosto não indica uma reversão de tendência. "A produção se estabilizou num nível muito alto", diz. O estrategista-chefe do BNP Paribas, Alexandre Lintz, diz que o comportamento das expectativas de inflação, que continuam a divergir da trajetória das metas, é um dos fatores que o levam a acreditar que o BC vai elevar os juros em 0,5 ponto percentual. Para ele, o BC deve elevar os juros em 0,5 ponto percentual também em dezembro. Já o economista-sênior para a América Latina do Dresdner Kleiworth Wasserstein (DrKW), Nuno Camara, é voz destoante: projeta um aumento de 0,25 ponto agora. Em outubro, ele também foi minoria, apostando numa alta de 0,5 ponto, previsão que se mostrou correta. Ele entende que os indicadores mostram alguma acomodação do crescimento, como o resultado da produção industrial de setembro. Além disso, o petróleo também recuou desde a reunião anterior do Copom, ainda que continue em níveis elevados. Mas o fator mais importante, de acordo com Camara, é que os juros reais subiram bastante do encontro de outubro para cá. Comparando o juro prefixado de um ano com a inflação projetada para os próximos 12 meses, a taxa real aumentou de 10,6% ao ano para os atuais 11,2%. Para ele, um aumento de 0,5 ponto da Selic tenderia a elevar a taxa ainda mais, o que não é desejável. Para os economistas Darwin Dib, do Unibanco, e Zeina Latif, da HSBC Asset Management, os últimos indicadores relevantes para a tendência dos preços -o ritmo da atividade industrial de setembro e o IPCA- reforçam o cenário descrito na última ata do Copom. "O IPCA teve efeito neutro, a despeito do bom comportamento dos preços dos alimentos e dos produtos semi-elaborados", afirma Zeina Latif. Para Dib, IPCA e INPC registraram uma ligeira alta em seus núcleos e não trouxeram qualquer indicativa de reversão. "As expectativas do mercado para a atividade industrial eram muito díspares e, na última ata, o Banco Central esperava uma queda", completa Dib. Para ele, seria necessário uma continuidade de queda no preço do petróleo por mais tempo para se traduzir em uma reversão de expectativas.