Título: Venda cai, mas indústria já se recupera
Autor: Sergio Lamucci e Azelma Rodrigues
Fonte: Valor Econômico, 07/12/2005, Brasil, p. A3

Conjuntura Em outubro, horas trabalhadas na produção e nível de capacidade instalada cresceram, diz CNI

As vendas reais da indústria de transformação recuaram pela quarta vez seguida em outubro, fechando o mês em queda de 0,91% em relação a setembro, na série livre de influências sazonais. Em quatro meses, o tombo acumulado é de 3,61%. O resultado está longe de ser animador, mas outros indicadores divulgados ontem pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostram um cenário de recuperação: as horas trabalhadas na produção aumentaram 0,95%, o nível de utilização cresceu de 80,7% em setembro para 81,1% em outubro e o emprego se manteve estável pelo sexto mês seguido na série dessazonalizada. Para alguns analistas, esses números sugerem que os empresários ainda apostam em um fim de ano e um começo de 2006 positivos, mesmo com o desempenho fraco de outubro. O economista-chefe da CNI, Flávio Castelo Branco, também avalia que deve haver alguma recuperação no fim do ano, mas diz que o recuo das vendas reais "frustra as expectativas de um desempenho mais otimista para o quarto trimestre". O problema, para ele, é que outubro é mês tradicional de bom desempenho, devido às vendas para o comércio relacionadas ao Natal. Ele culpa os juros altos e o câmbio valorizado pelo mau resultado. No ano, as vendas reais acumulam alta de 2,28%. Economistas como Guilherme Maia, da Tendências Consultoria Integrada, admitem que os números não são positivos, mas fazem ressalvas. Maia lembra que parte da queda das vendas reais pode ser explicada pelo recuo do dólar. Como muitas empresas são exportadoras, o câmbio valorizado reduz as receitas em reais. Além disso, o aumento das horas trabalhadas e do nível de capacidade instalada sugerem um aumento da produção, como nota a economista Giovanna Rocca, do Unibanco. Ela espera uma queda de 0,8% da produção industrial em outubro ante setembro, devido ao resultado de indicadores como a produção de veículos e a expedição de papelão ondulado. Os números da CNI de horas trabalhadas e nível de capacidade instalada, porém, indicam que o recuo pode ter sido menor que esse, avalia ela. Maia concorda com essa avaliação, acreditando ainda que a estabilidade no emprego industrial, mesmo depois de um período relativamente longo de queda nas vendas reais, indica uma aposta em recuperação da atividade nos próximos meses. Se houvesse muito pessimismo, as empresas já teriam começado a demitir. A queda nas vendas reais ao mesmo tempo em que ocorre aumento das horas trabalhadas poderia implicar aumento dos estoques. Para Maia, porém, essa correlação não é direta, sendo difícil extrair essa conclusão de um mês isolado. Essa combinação não resulta automaticamente em queda na produção nos meses seguintes fruto do crescimento de estoques. A produção industrial em outubro deve mostrar queda em relação ao mês anterior, mas perspectivas para novembro são mais positivas. Pelas contas de Maia, no mês passado a produção de veículos cresceu 3,4% e a expedição de papelão ondulado, 2,2%, na série livre de influências sazonais. Os indicadores sugerem que, após um terceiro trimestre ruim e um outubro fraco, a economia começou a se recuperar no mês passado. A visão mais otimista de Maia e e Giovanna não é compartilhada por Castelo Branco. Mesmo um número positivo como o crescimento dos salários líquidos, de 0,53% em outubro e de 8,57% no acumulado do ano, não dá muito ânimo ao economista da CNI. "Trata-se de uma recuperação pela queda da inflação e não por maior avanço nas vendas industriais ", afirma ele. O aumento do nível de capacidade instalada tampouco anima a CNI. O indicador dessazonalizado em outubro, de 81,1%, foi o segundo mais baixo do ano, atrás apenas do de setembro. Nesse cenário, a CNI vai rever para baixo as previsões para o crescimento de 2005. A previsão deve cair de 3,5% para 2,5%, refletindo a piora na expectativa em relação ao desempenho da indústria, que recuou de 4,4% para cerca de 3%. (* Valor Online)