Título: Ipea reduz projeção do PIB para 2,3%
Autor: Chico Santos
Fonte: Valor Econômico, 07/12/2005, Brasil, p. A3

O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), órgão do Ministério do Planejamento, reduziu em mais de um terço a previsão de crescimento da economia brasileira para 2005. De 3,5% estimados em setembro, o número baixou para 2,3% no Boletim de Conjuntura de dezembro, divulgado ontem. Embora tenha alinhado a estimativa às previsões mais céticas do mercado, o Ipea não fez coro às correntes do governo que vêm jogando sobre o Banco Central e a política de juros a responsabilidade pela queda de 1,2% no Produto Interno Bruto (PIB) do terceiro trimestre. "A taxa de juros elevada desde o final de 2004 teve papel importante na queda do PIB no terceiro trimestre. O que dissemos é que ela não foi o único fator", disse Paulo Levy, diretor de estudos macroeconômicos do Ipea. Levy enumerou, entre outros fatores para a queda do PIB, a quebra da safra agrícola, a crise política, com efeito negativo sobre as decisões de investimento, a forte variação negativa dos estoques, que o órgão estima em 80,4%, e a fraca expansão do crédito, após forte incremento no segundo trimestre. "No final de 2004, havia sinais claros de aceleração inflacionária, que precisaria ser enfrentada. As medidas de núcleo (da inflação) apontavam para taxas superiores a 8% ao ano. O que o BC fez foi subir os juros. Se teria sido possível atingir o mesmo resultado com custo menor em termos de retração da atividade econômica no terceiro trimestre, não temos condições de avaliar", afirmou o diretor do Ipea. Levy e Fabio Giambiagi, coordenador do Grupo de Análise Conjuntural do instituto, procuraram distanciar a posição do Ipea em relação às últimas declarações de membros importantes da equipe do governo, como o presidente do BNDES, Guido Mantega, e o presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, que colocaram sobre os ombros da política do BC a responsabilidade pelo desempenho pífio da economia. Para Giambiagi, "o BC, bem ou mal, está cumprindo a meta de inflação, e essa é a tarefa que lhe foi atribuída". A expectativa do Ipea, reforçada pela divulgação, ontem, do aumento da produção de automóveis, é que a economia já tenha retomado ritmo mais aquecido em novembro, e que entre em 2006 em curva ascendente. A expectativa é que o PIB cresça 1,4% no quarto trimestre sobre o terceiro, e que cresça 3,4% em 2006, menos que os 4% previstos anteriormente. Em termos dos componentes do PIB, os que devem influir mais fortemente no fraco desempenho deste ano serão, pela ótica da demanda, os investimentos, que irão crescer 0,9%, ante 10,9% em 2004. E pela ótica da produção, a agropecuária, que, na estimativa do Ipea, vai crescer apenas 1,6%, ante 5,3% no ano passado, e a indústria, que irá crescer 2,7% (6,2% em 2004).