Título: Delúbio reconhece falta de registro
Autor: Caio Junqueira, Cristiane Agostine e Carolina Mand
Fonte: Valor Econômico, 07/12/2005, Política, p. A6

O ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares confirmou ontem o pagamento de R$ 1 milhão à Companhia de Tecidos Norte de Minas (Coteminas), em maio deste ano, e relatou que os recursos vieram de empréstimo feito pelo empresário Marcos Valério de Souza. O partido não reconhece o pagamento parcial da dívida de quase R$ 12 milhões à empresa do vice-presidente da República, José Alencar, referentes à compra de camisetas para a campanha presidencial de Luiz Inácio Lula da Silva, em 2004. Por meio de nota, Delúbio disse ter-se enganado quando afirmou que os recursos dados à empresa de Alencar eram legais, registrados no livro contábil do partido: "Quando (fui) perguntado sobre esse pagamento, lembrei-me de sua ocorrência mas me equivoquei, achando que tinha sido feito com recursos contabilizados. Na verdade o pagamento foi feito em espécie, com dinheiro que tinha origem nos empréstimos feitos por Marcos Valério ao PT. Trata-se do valor que, daqueles empréstimos, foi reservado para despesas do Diretório Nacional do Partido". A atual direção do PT reiterou que não reconhece nenhum pagamento que tenha saído das receitas ordinárias do PT. O secretário de Finanças, Paulo Ferreira, reforçou que não pode afirmar que nenhuma parcela foi paga, uma vez que não foi registrada na contabilidade partidária. "Aquilo que não é formal legal o PT não reconhece e é essa a posição que nós sustentaremos. Na apresentação de contas que enviaremos ao TSE não constará essa alteração", disse Ferreira. O registro do pagamento de R$ 1 milhão consta nos livros contábeis da empresa, mas não é possível vê-lo no balanço, ainda em aberto. O acerto foi feito depois do atraso das duas primeiras parcelas, das três previstas no contrato. A data é posterior ao período que Valério diz ter ter feito operações contábeis para o PT. A última operação teria sido feita em outubro de 2004. De acordo com Josué Gomes da Silva, diretor-presidente da Coteminas, a companhia têxtil fornece camisetas a diversos partidos políticos. "Sempre fizemos isso e já deixamos de receber de diversos partidos. Mas depois todos acabaram pagando. Agora também esperamos receber do PT", disse. O Partido dos Trabalhadores passa pela maior crise financeira de sua história e acumula dívida de R$ 52 milhões. A empresa de José Alencar e o Banco do Brasil, a quem o partido deve R$ 12 milhões de um leasing, referentes à compra de computadores, são os maiores credores do PT. Ferreira disse que o pagamento da dívida do partido com a Coteminas só deve começar a ser feito em 2006. "Estou lutando para não morrer afogado. Estamos em uma dificuldade muito grande para ultrapassar o mês de dezembro", reclamou. O grupo Coteminas foi o maior doador da campanha de 2004 de Lula, com R$ 2, 4 milhões, registrados no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A dívida oficial da campanha de Lula é de R$ 770 mil referente à campanha petista à Presidência é inferior a de R$ 5,9 milhões.o do candidato do PSDB, José Serra. O tesoureiro petista garantiu o pagamento da dívida aos empresários. Questionado sobre o teor da proposta de parcelamento que o partido pensa apresentar à Coteminas, Paulo Ferreira ironizou dizendo que pedirá prazo de 120 anos para saldar a dívida.