Título: PSDB ressuscita emenda que põe fim à reeleição
Autor: Raymundo Costa e Maria Lúcia Delgado
Fonte: Valor Econômico, 07/12/2005, Política, p. A6

O PSDB armou o palco para seus três pré-candidatos a presidente, mas nenhum deles compareceu ontem ao lançamento do livro "Renovar Idéias", uma síntese de 20 horas de debates entre 35 intelectuais, acadêmicos e pesquisadores promovidos pelo partido. Tanto José Serra como Geraldo Alckmin e Aécio Neves preferiram atender a outros compromissos previstos na agenda. Por um motivo óbvio: esfriar o debate sobre a escolha do candidato tucano a presidente e desfazer o mal-estar causado - no PSDB e no PFL - pelo lançamento do nome do prefeito de São Paulo, José Serra, pelo prefeito do Rio, Cesar Maia. Apesar das tentativas de tucanos e pefelistas de evitar a antecipação do debate sucessório, o jogo de bastidor continua. Ontem, a bancada do PSDB na Câmara decidiu patrocinar uma emenda constitucional apresentada há quase dois anos pelo deputado Jutahy Júnior (BA) que acaba com a reeleição para cargos do Executivo. A emenda estabelece um mandato de cinco anos para presidente, governadores e prefeitos, mas só seria adotada a partir da eleição do sucessor do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2011. Aprovada nos termos em que foi redigida por Jutahy, um correligionário de Serra no PSDB, a emenda poderia interessar ao mesmo tempo a Lula, no PT, e a Alckmin e Aécio, entre os tucanos. A Lula, porque, se for reeleito - o presidente sempre tem se manifestado contra o instituto da reeleição -, poderia exercer mais cinco anos de mandato, num total de nove anos. A Alckmin e Aécio, porque retiraria a reeleição do horizonte de José Serra, depois de cinco anos, o que permitiria que ambos, ainda jovens, possam reivindicar a indicação tucana em 2011. Ontem, José Serra conversou com o líder do PFL no Senado, José Agripino Maia (RN). O prefeito disse que o lançamento de sua candidatura pelo prefeito do Rio, Cesar Maia, fora um grande mal-entendido, que não é candidato e que não é sua intenção criar confusão neste momento. Agripino aceitou as explicações de Serra. O fato é que a declaração de Cesar Maia causou grande mal-estar no PFL (a exemplo do que ocorreu no PSDB, Alckmin e Aécio reagiram ao lançamento do nome de de Serra), mas que já estava praticamente desfeito no final da tarde de ontem. "É jogo jogado", disse o líder da minoria na Câmara, José Carlos Aleluia (PFL-BA). "Esqueçam esse assunto. Vamos para outros temas", dizia José Agripino Maia. O PFL já dá como certa a desistência da candidatura de Cesar Maia a presidente e que estará aliado ao PSDB em 2006. Mas deve aguardar que os tucanos cumpram seu próprio calendário para só então se manifestar. O partido não só aceitou as explicações de Serra, como também atribuiu a certa ingenuidade de Cesar Maia o lançamento do nome do tucano. Além disso, Maia e Serra são amigos. Quando Cesar Maia foi morar no Chile, Serra o recebeu. O atual prefeito do Rio pretendia estudar engenharia de minas, mas foi convencido pelo paulista a cursar economia. O pefelista é grato ao tucano pela escolha feita. Os dois têm outra coisa em comum: ambos são casados com chilenas.