Título: Para Meirelles, crítica afeta eficácia dos juros
Autor: Cláudia Schüffner
Fonte: Valor Econômico, 07/12/2005, Política, p. A8

O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, revidou ontem as críticas recentes à política de taxa de juros colocada em prática pela instituição. Segundo ele, questionamentos à ação do BC retiram a eficácia dos juros, obrigando a autoridade monetária a lançar mão de uma dose maior para atingir os mesmos resultados no controle da inflação. Meirelles não especificou a quem dirigia o recado, mas, nos últimos dias, a política monetária vem sendo alvo de ataques públicos por parte de integrantes do governo, entre eles o presidente do BNDES, Guido Mantega, e o presidente da Petrobras, Sergio Gabrielli. "É pena que tantos, em vez de celebrarem o que se constitui uma conquista para o país e fazerem o possível para que essa vitória se consolide ao longo do tempo, continuem a usar os mesmos argumentos do passado para minar a credibilidade da política monetária", disse, em abertura de seminário do BC sobre economia bancária. No discurso, previamente discutido com o Ministério da Fazenda e demais membros da diretoria colegiada do BC, Meirelles sustentou que não é possível reduzir a inflação sem causar prejuízos ao crescimento. "Por maior que seja a credibilidade da política monetária, não existe desinflação sem custos em termos de produto", afirmou. Mas, segundo ele, esses custos são sempre maiores quando os "indivíduos são céticos sobre a determinação do BC em manter a inflação sob controle". Meirelles disse que a política monetária vem sendo alvo de ataques em duas frentes. "A primeira delas é a eterna especulação sobre a real convicção do governo no sentido de apoiar os esforços do BC para controlar a inflação", disse. "Essa especulação tem sido sistematicamente desmentida pelos fatos." Outra forma de ataque, disse, é a "noção de que a política monetária é ineficaz, sendo somente um instrumento nocivo manipulado com teimosia e fervor pelo BC, capaz apenas de causar prejuízos ao crescimento e à dinâmica da dívida". Meirelles diz que fatores como limites ao alcance do canal de transmissão da política monetária podem, apenas, exigir movimentos maiores na taxa de juros, mas não requerer prejuízos maiores ao produto para controlar a inflação. Meirelles disse que o fato de o crescimento ter ficado menor do que o previsto neste ano não significa que "a política monetária implementada pelo BC seja insensível ao que acontece no nível de atividade". Ele argumentou que o crescimento entra nas decisões do BC tanto nas decisões que reagem a choques de oferta e no ritmo adequado de convergência da inflação para a meta. Foi levando em conta possíveis prejuízos ao crescimento, disse, que o BC decidiu perseguir um objetivo de 5,1% neste ano, em vez da meta de 4,5%. Meirelles sustentou ainda que "os resultados recentes não dão respaldo à visão de que o BC seja uma instituição inflexível, que não tolera a ocorrência de quaisquer desvios em relação à meta central". Segundo ele, a inflação deverá ficar em 5,6% neste ano, segundo expectativas de mercado, percentual 0,5 ponto percentual (pp.) maior do que a meta ajustada de 5,1% e 1,1 pp. superior que a meta original (4,5%). "A inflação está mais próxima do limite superior do intervalo de tolerância do que do centro da meta", disse, inapropriadamente, Meirelles. Na verdade, a inflação esperada pelo mercado (5,6%) está mais próxima do centro da meta original (4,5%) do que do teto do intervalo de tolerância (7%). Em texto divulgado na internet, o BC corrigiu a afirmação.