Título: Lula indica mudança na política econômica
Autor: Cláudia Schüffner
Fonte: Valor Econômico, 07/12/2005, Política, p. A8
O anúncio da liberação de aproximadamente R$ 3,2 bilhões pelo governo federal não vai diminuir a pressão por alterações na política econômica. Questionado ontem, após cerimônia de entrega do prêmio Finep, no Palácio do Planalto, se um ajuste de fato vai acontecer, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva respondeu: "Vai, vai". Perguntado novamente sobre que ajustes seriam esses e quando ocorreriam, Lula limitou-se a responder: "Tudo vai acontecer", disse , antes de retornar ao gabinete. À noite, a assessoria do presidente ligou para as redações para avisar que Lula, na verdade, quis dizer que a economia vai se ajustar no quarto trimestre e voltar a crescer". Fontes do palácio confirmaram que os valores anunciados após a reunião da Junta Orçamentária realizada na última segunda estão bem abaixo do montante necessário para injetar um novo ânimo na economia. O Valor mostrou ontem que, dos R$ 5,8 bilhões demandados pelos ministérios, apenas R$ 2,8 bilhões foram disponibilizados. No Congresso, as emendas parlamentares totalizavam R$ 1,6 bilhão, mas apenas R$ 1,1 bilhão serão liberados. "Está aquém das necessidades, mas é o máximo que conseguimos", admitiu o ministro da coordenação política, Jaques Wagner. "Na prática, o relacionamento governo e oposição vai continuar igual", avaliou. Assessores palacianos reconhecem que o governo anda em terreno minado e que, sem ajustes mais profundos na política econômica, dificilmente cessarão as críticas internas. Acrescentam que a liberação anunciada é insuficiente para reverter a queda do PIB verificada no terceiro trimestre. Pelos novos cálculos do mercado, o crescimento não deve passar dos 2,6% este ano. Depois de levar duas semanas tentando selar a paz entre o ministro da Fazenda, Antonio Palocci e da Casa Civil, Dilma Roussef, que divergiram publicamente quanto à definição da nova meta de superávit primário, o Planalto amargou novamente bombardeios seguidos de integrantes do Executivo. Primeiro, foi o presidente do BNDES, Guido Mantega. Depois, o presidente da Petrobras, Sergio Gabrielli. Pessoas com bom trânsito no Planalto admitem a encruzilhada em que o governo enveredou. Os ataques desferidos por Gabrielli e Mantega engrossam o coro daqueles que defendem uma política de investimentos mais agressiva. Dos R$ 3,2 bilhões liberados na segunda, R$ 2,1 bilhões vão para os projetos dos ministérios, sobretudo infra-estrutura e programas sociais e outros R$ 700 milhões serão remanejados. "Há projetos que nem foram licitados. Não vai dar tempo de empenhar tudo isso", reclamou outro assessor. Quantos aos juros, a situação também é delicada. Assessores governistas estimam que reduções de 0,25%, 0,5% são tímidas demais e só trarão reflexos daqui a seis ou oito meses. "Por outro lado, se o Banco Central se entusiasmar e reduzir, de uma vez, um ponto percentual ou mais, vai gerar uma desconfiança muito ruim no mercado", prosseguiu o aliado. "O BC errou na dose, todos sabem disso. O problema é descobrir o que fazer para consertar esse erro". O vice-líder do governo na Câmara, Sigmaringa Seixas (PT-DF), classifica como imprevisível o resultado da liberação de recursos. Até admite que os beneficiários poderão, num primeiro momento, amainar os ataques. Mas por pouco tempo. "O grande problema é que as críticas estão se avolumando. E não partem só da oposição, mas, sobretudo, dos aliados e governistas", apontou.