Título: Ministério confirma foco de aftosa no PR
Autor: Alda do Amaral Rocha, Mauro Zanatta e Marli Lima
Fonte: Valor Econômico, 07/12/2005, Agronegócios, p. B
Crise sanitária Doença foi detectada em São Sebastião da Amoreira, que recebeu animais de Eldorado (MS)
A briga entre o Estado do Paraná e o governo federal por causa da febre aftosa promete se acirrar. Ontem, o Ministério da Agricultura confirmou a existência de focos da doença no Estado após novos testes feitos pelo pelo Laboratório Nacional Agropecuário (Lanagro ), de Belém (PA), a partir da última quinta-feira. De acordo com o diretor do Departamento de Saúde Animal da Secretaria de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura, Jorge Caetano, a suspeita de casos da enfermidade no Estado, anunciada em 21 de outubro, se confirmou como foco de aftosa após os novos testes. Isso não significa, porém, explicou Caetano, que o vírus esteja ativo na região. O motivo é que os animais infectados saíram de Eldorado (MS) - onde um foco de aftosa foi confirmado em 10 de outubro - em 24 de setembro e o curso da doença é de 21 dias. Segundo o diretor de saúde animal, as novas investigações mostraram que os animais de quatro propriedades do Paraná tiveram contato prévio com o vírus causador da aftosa pois vieram de uma propriedade de Eldorado (MS) , onde novos exames feitos desde quinta passada também confirmaram a existência da doença. Os testes realizados pelo Lanagro com as novas amostras do Paraná deram sorologia positiva no caso de animais provenientes de propriedade em São Sebastião da Amoreira. Os animais das properiedades em Grandes Rios, Maringá, Amaporã não tiveram sorologia positiva, mas novos testes devem comprovar a contaminação já que eles vieram da região infectada no Mato Grosso do Sul, explicou Jorge Caetano. Ele acrescentou que novos testes serão realizados nessas propriedades e também em outras áreas do Estado para verificar se o vírus está ativo na região. Caetano explicou ainda que o quadro de contato prévio com animais infectados mais sorologia positiva é tecnicamente considerado foco conforme o Código Sanitário Internacional. Uma fonte do Ministério da Agricultura disse que os novos testes não conseguiram isolar o vírus da doença, mas os exames resultaram em sorologia positiva, o que significa dizer que nos testes houve alguma reação ao vírus. Como as amostras foram recolhidas de animais que haviam sido vacinados já há algum tempo, a fonte sustenta que a reação em questão não poderia ter sido provocada pela carga de vírus contida na vacina, mas - por exclusão -, pela doença. (ver matéria abaixo). O Ministério defende que os animais das regiões onde foram detectados os focos sejam sacrificado para que as restrições previstas pela OIE - Organização Internacional de Saúde Animal - às áreas afetadas durem menos tempo: seis meses. No caso do abate sanitário, que tem procedimentos sanitários mais brandos, as restrições duram 18 meses. Jorge Caetano disse, porém, que a decisão sobre recorrer ao sacrifício ou não caberá ao governo do Paraná. Ele observou que o Estado já tinha imposto restrições ao trânsito de animais por causa da suspeita (agora confirmada). Essas restrições devem ser mantidas. O secretário de agricultura do Paraná, Orlando Pessuti, informou, em nota, que não reconhece a existência de foco em São Sebastião da Amoreira. "Continuamos afirmando que, de acordo com os trabalhos desenvolvidos pela Secretaria da Agricultura e com os resultados dos exames emitidos pelo Laboratório Nacional Agropecuário (Lanagro), até o momento, não temos aftosa no Paraná", afirma Pessuti. "Não temos um conhecimento oficial, formal. De qualquer forma, toda decisão do Ministério da Agricultura de estabelecer um foco de aftosa em nosso Estado, será contestada administrativa e judicialmente. É impressionante como o Governo Federal não cede e tenta nos impor a aftosa", completa. Caetano disse que não há imposição e que o governo federal "tem obrigação de notificar [focos] e não pode ficar preso a interesses políticos dos Estados". Jorge Caetano afirmou não acreditar que a confirmação do foco no Paraná possa atrasar a suspensão do embargo de alguns países à carne brasileira. "A atitude do Brasil mostra seriedade". Ele também disse que o anúncio não está relacionado à reunião do Comitê Veterinário da União Européia, que acontece amanhã em Bruxelas. Caetano acredita que a União Européia não deve ampliar o embargo ao Brasil por causa da aftosa, hoje restrito a Mato Grosso do Sul, Paraná e São Paulo. "Desde que a doença surgiu, já enviamos 17 informes técnicos à União Européia". Ele avalia que a Rússia pode suspender as compras de carne suína do Paraná, mas Santa Catarina deve ser poupada por não vacinar animais contra a doença e por seu sistema de vigilância forte. Além disso, a Rússia recebeu o apoio do Brasil para entrar na Organização Mundial do Comércio por isso não deve retaliar Santa Catarina, acredita uma fonte do setor. O Valor apurou que nas negociações de amanhã com a União Européia, o Brasil tentará um prazo intermediário para o Paraná - entre os seis meses e os 18 meses - sob o argumento de que os animais contaminados já chegaram do Mato Grosso do Sul com a doença em estágio final.