Título: Juro sobe após BC rebater críticos
Autor: Luiz Sérgio Guimarães
Fonte: Valor Econômico, 07/12/2005, Finanças, p. C2

A dura resposta do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, às críticas formuladas por integrantes do próprio governo à sua política monetária, tida como excessivamente conservadora e danosa ao crescimento econômico, provocou ontem reviravolta no mercado futuro de juros da BM&F. À exceção dos dois contratos mais curtos, relativos aos CDIs efetivos para dezembro e janeiro, todos os demais subiram. O contrato mais negociado, para janeiro de 2007, saltou de 16,56% para 16,64%. Os analistas consideraram os termos do discurso proferido por Meirelles em seminário realizado ontem em Brasília bastante firmes, sinal de que a diretoria do BC desfruta do respaldo dos seus superiores. Ao reafirmar a eficácia das ferramentas ortodoxas utilizadas pela política monetária, Meirelles neutralizou os comentários que vinham circulando no mercado segundo os quais poderiam haver mudanças na diretoria. Já que o BC não errou na dose do juro, não há porque mudar nada. E ao reiterar a opção pelo gradualismo monetário, o dirigente afastou a possibilidade de cortes fundos e abruptos da Selic. As altas ocorridas ontem no pregão de DI futuro da BM&F não significam uma aposta num reconservadorismo do BC. Se, com seu discurso, Meirelles conseguir restabelecer a confiança interna, estará recolocado o caminho suave do declínio do juro. O BC continuará baixando a Selic, mas em ritmo comedido. Tanto é que o contrato mais curto, para a virada do ano, ao recuar ontem 0,03 ponto, para 18,06%, ainda reflete o consenso de que, na semana que vem, o Copom irá reduzir a Selic em apenas meio ponto percentual, para 18%. Nada mais do que isso.

Sinal verde a arbitragens afunda mais o dólar

A fala de Meirelles foi interpretada pelos investidores, sobretudo os estrangeiros, como sinal verde à continuidade das arbitragens que consistem na venda de dólar e compra de juro. Após o discurso, o dólar chegou a cair 1,31%, cotado a R$ 2,167. Como na véspera, as intervenções cambiais efetuadas pelo BC apenas moderaram a intensidade da queda, sem impedir que o dólar fechasse em baixa. De manhã, vendeu 12,5 mil contratos de swap cambial reverso e se comprometeu a comprar no mercado futuro o equivalente a US$ 598,4 milhões. E, à tarde, fez o tradicional leilão de compra de dólar no mercado à vista. Foi o 42º leilão desde que retomou a política de recomposição de reservas, em outubro. Mas, ao contrário do realizado na segunda-feira, o de ontem foi tímido. Aceitou apenas três propostas e pelo preço sovina de R$ 2,176. O dólar fechou cotado a R$ 2,177, em retrocesso de 0,86%. Se o BC vender hoje a totalidade de 12,5 mil novos contratos de swap que oferece aos bancos, irá zerar seu passivo cambial em contratos futuros, avaliado, até ontem, em US$ 570 milhões. Além da defesa feita por Meirelles da austeridade monetária, os investidores gostaram de dado surgido ontem nos EUA. A produtividade dos trabalhadores americanos cresceu 4,7% no terceiro trimestre. Ao retirarem pressões sobre os custos, os ganhos de produtividade contribuem para uma inflação menor. Mais um incentivo à continuidade da queda dos juros pagos pelos papéis de 10 anos do Tesouro americano. As taxas caíram ontem para 4,49%, ante 4,57% na véspera. Há um mês estavam em 4,66%. Os dois fatores estimularam a compra de ações e de bônus brasileiros. A Bovespa marcou novo recorde de alta - 33.223 pontos - e o risco-país novo recorde de baixa, a 318 pontos-base.